Mulheres e a questão racial da sífilis no Brasil: uma análise de tendência (2010-2019)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33448/rsd-v11i1.25202

Palavras-chave:

Sífilis; Racismo; Saúde da mulher; Vulnerabilidade social; Saúde pública.

Resumo

Este estudo objetivou analisar a relação entre a ocorrência de sífilis e a população feminina negra nas cinco regiões geográficas brasileiras e no Brasil entre 2010-2019. Trata-se de um estudo observacional ecológico que utilizou dados secundários disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e pelo Departamento de Doenças Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde. No tratamento estatístico dos dados, foi utilizado o software Jointpoint Regression Program, versão 3.3.1, para analisar as tendências no recorte temporal estabelecido. Os resultados apontam que, apesar de as mulheres pretas e pardas representarem quase metade da população feminina brasileira, estas não possuem o mesmo acesso à saúde que mulheres brancas. Tal fato gera iniquidades que, associadas à discriminação racial, trazem consequências permanentes para saúde de indivíduos e coletividades; e contribuem para a adoção de comportamentos inadequados e para o adoecimento, aumentando a possibilidade de ocorrência de casos de doenças infecciosas, como a sífilis. A essa problemática, soma-se inconformidades nos registros sobre autodeclaração racial de saúde. Assim, o adequado preenchimento das fichas de notificação, bem como a elaboração e execução de políticas públicas voltadas à geração de equidade na saúde podem contribuir para atenuação e enfrentamento da sífilis na população negra.

Biografia do Autor

Michael Ferreira Machado, Universidade Federal de Alagoas

Sanitarista. Professor de Saúde Coletiva, no Curso de Medicina, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Doutor e Mestre pela Universidade Federal de Pernambuco. Graduado pela Universidade Federal de Alagoas, realizou mobilidade internacional na Universidade do Porto (Portugal). Coordena o Núcleo de Estudos em Medicina Social e Preventiva- CNPq/UFAL. Docente permanente no Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família (ProfSaúde - UFAL/FIOCRUZ/ABRASCO) e no Programa de Pós-Graduação em Ensino e Formação de Professores PPGEFOP/UFAL (Linha: Práticas de ensino em ciências da saúde e na formação de profissionais em saúde para o SUS). Pesquisador do Grupo de Pesquisa: Territórios, Modelagens e Práticas em Saúde da Família (CNPq - FIOCRUZ). Filiado à Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO). Integrante da Rede Brasileira de Educação e Trabalho em Saúde e da Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação. É colaborador- voluntário da Amnistia Internacional (Portugal) e da Escola de Saúde Pública de Pernambuco. Representante da UFAL na CIES/AL (2018-2021). Atualmente desenvolve pesquisas na área de Saúde Coletiva, com ênfase nos seguintes temas: Saúde Materno-infantil; Política, Planejamento e Gestão em Saúde; Equidade e Políticas Públicas de Saúde. 

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Publicado

13/01/2022

Como Citar

MACHADO, M. F. .; FRANÇA, B. S. R. .; FARIAS, M. L. S. A. de .; COSTA, M. I. . Mulheres e a questão racial da sífilis no Brasil: uma análise de tendência (2010-2019) . Research, Society and Development, [S. l.], v. 11, n. 1, p. e51511125202, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i1.25202. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/25202. Acesso em: 1 jul. 2024.

Edição

Seção

Ciências da Saúde