Pensamentos de umbandistas da Cidade do Rio de Janeiro sobre a pandemia da COVID-19: interfaces entre religião, saúde e sociedade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33448/rsd-v9i12.11154

Palavras-chave:

Pandemia; COVID-19; Umbanda; Crenças Religiosas; Saúde.

Resumo

O ano de 2020 foi marcado pela pandemia da COVID-19, caracterizada pelo alto número de infecções e óbitos pelo mundo e, como o nível de conhecimento acerca do vírus ainda é baixo, é compreensível que as pessoas construam hipóteses, compartilhem crenças e pensamentos na sociedade, atravessados por várias áreas mediante as informações recebidas e difundidas. Neste sentido, a Umbanda no Brasil, com suas particularidades, cosmovisão e cosmogonia atuantes em situações de saúde e doença, demonstra saber próprio e capaz de orientar comportamentos e atitudes de seus fiéis através das crenças partilhadas, o que é relevante investigar. Para tanto, o objetivo deste estudo consiste em analisar o pensamento dos umbandistas da cidade do Rio de Janeiro sobre a pandemia da COVID-19 e sua influência quanto ao enfrentamento da doença. Assim, trata-se de pesquisa exploratória, realizada pelo Google Forms, com 100 participantes que moram no Rio de Janeiro, maioria mulheres, com idade média superior a 40 anos. Os resultados alcançados revelam que os participantes possuem crenças religiosas para compreender e explicar a pandemia da COVID-19 e a interação desta com a terra, os seres humanos, estágios de evolução do homem e do mundo em que habita, além de aspectos relativos à personificação do mal neste contexto. Contudo não atribuem à esfera da religião a solução exclusiva para o cenário atual, mas sim às descobertas científicas, as quais também norteiam suas práticas preventivas de saúde frente à pandemia e refutam as crenças de que o vírus foi criado em laboratório. 

Biografia do Autor

Renê dos Santos Spezani, Centro Universitário Augusto Motta

Enfermeiro. Pós-doutorando em Enfermagem pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor Adjunto no Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), Rio de Janeiro, Brasil.

Antonio Marcos Tosoli Gomes , Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Enfermeiro. Doutor em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Pós-Doutor em Enfermagem pelo Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor Titular do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica e do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Brasil.

Juliana de Lima Brandão, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, Brasil. Especialista em Enfermagem do Trabalho pela Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense – EEAAC/UFF, Brasil.

Livia Fajin de Mello dos Santos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Enfermeira. Mestre na área de Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro - EEAN/UFRJ. Professora Assistente do Departamento de Enfermagem Cirúrgica da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro- UERJ, Brasil.

Carla Cristina Gonçalves, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Enfermeira. Especialização em Residência em Enfermagem Clínica pelo Hospital Universitário Pedro Ernesto, HUPE-UERJ, Brasil. Especialização em Sexologia Humana pela Universidade Candido Mendes – UCAM, Brasil. Rotina do Serviço de Transplante Renal do Hospital Universitário Pedro Ernesto-Universidade do Estado do Rio de janeiro- UERJ. Email: carlacrisgon@bol.com.br.

Referências

Afonso, P. (2020). The Impact of the COVID-19 Pandemic on Mental Health. Acta Médica Portuguesa, 33(5), 356-357. Recuperado de http://dx.doi.org/10.20344/amp.13877

Andersen, K. G., Rambaut, A., Lipkin, W. I., Holmes, E. C., & Garry, R. F.W. (2020). A origem proximal do SARS-CoV-2. Nat Med, 26, 450–452. Recuperado de https://doi.org/10.1038/s41591-020-0820-9

Bittencourt, A. B. (2017). A era das congregações - pensamento social, educação e catolicismo. Pro-posições, 28(3), 29-59. Recuperado de http://dx.doi.org/10.1590/1980-6248-2016-0117

Bortoleto, G. (2020, Março 22). A dor que ensina: acontecimentos recentes podem trazer mudanças em prol do respeito e da ética. Diário da Região. Recuperado em 09 outubro 2020 de https://www.diariodaregiao.com.br/_conteudo/2020/03/vida_e_estilo/espiritualidade/ 1188182-a-dor-que-ensina.html

Brasil. (2020a). Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico Especial nº34. Doença pelo Coronavírus COVID-19. Semana epidemiológica 40 (27/09/2020 a 03/10/2020). Recuperado de http://portalarqui vos2.saude.gov.br/images/pdf/2020/October/08/Boletim-epidemiologico-COVID-34.pdf

Brasil. (2020b). Ministério da Saúde. Primeiro caso de COVID-19 no Brasil permanece sendo o de 26 de fevereiro. Recuperado de https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/no ticias/primeiro-caso-de-COVID-19-no-brasil-permanece-sendo-o-de-26-de-fevereiro

Câmara Monte, T. M. C. (2013). A religião e sua função social. Revista Inter-Legere, (5). Recuperado de https://periodicos.ufrn.br/interlegere/article/view/4619

Chagas, T. (2020, Março 28). Pastor diz que coronavírus é castigo pela aprovação do casamento gay e aborto. Gospel mais. Recuperado de https://noticias.gospelmais.com.br/pastor-coronavirus-castigo-aprovacao-casamento-gay-131943.html

Conselho Nacional de Saúde. (2012). Resolução nº 466 de 12 de dezembro de 2012. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília, DF. Recuperado de http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf

Conselho Nacional de Saúde. (2016). Resolução nº 510 de 7 de abril de 2016. Dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais cujos procedimentos metodológicos envolvam a utilização de dados diretamente obtidos com os participantes ou de informações identificáveis ou que possam acarretar riscos maiores do que os existentes na vida cotidiana. Brasília, DF. Recuperado de http://conselho.saude.gov.br/resolu coes/2016/Reso510.pdf

Cruz, A. C. D. & Arruda, A. (2014). O povo de rua em terreiros de umbanda da cidade do Rio de Janeiro. Memorandum, 27, 100-126. Recuperado de seer.ufmg.br/index.php/mem orandum/article/view/6373

Cumino, A. (2011). A História da Umbanda: uma religião brasileira. São Paulo: Madras, 400p.

Dorneles, D. R. & Santos, L. H. S. (2020). Religiosidade afro-brasileira e contendas raciais: os mecanismos racializados que acometem negros e rituais afro-religiosos. In: Isaia, A. C., Alves, C. R. C., Elesbão, G. O., Lucas, G., Ferreira, G. A., Oliveira, K. S. & Scheffer, J. V. (Orgs.). História, cultura e religiosidades afro-brasileiras (volume 3). Canoas: Ed. Unilasalle. Recuperado de https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/books/issue /download/289/15

Fary, B. (2020, Abril 28). COVID-19 no tempo das catástrofes: uma resposta de Gaia? Catarinas: jornalismo com uma perspectiva de gênero. Recuperado de https://catarinas.info/COVID-19-no-tempo-das-catastrofes-uma-resposta-de-gaia/

Freitas, B. T. & Pinto, T. S. (1958). Doutrina e Ritual de Umbanda. Rio de Janeiro: Editora Espiritualista, 184p.

Galhardi, C. P., Freire, N. P., Minayo, M. C. S., & Fagundes, M. C. M. (2020). Fato ou fake? Uma análise da desinformação frente a pandemia da COVID-19 no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 25(Supl.2), 4201-4210. Recuperado de https://doi.org/10.1590/1413-812320202510.2.28922020

Gil, A. C. (2017). Como elaborar projetos de pesquisa. (6A ed.), São Paulo: Atlas, 192p.

Gomes, S. F., Penna, J. C. B. O. & Arroio, A. (2020). Fake News científicas: percepção, persuasão e letramento. Ciência & Educação, 26, e20018. Recuperado de https://doi.org/10.1590/1516-731320200018

Holanda, V. M. S. & Mello, M. L. (2014). A relação entre saúde e cultura nas práticas terapêuticas da Umbanda em Fortaleza - CE e no Rio de Janeiro - RJ. 29ª Reunião Brasileira de Antropologia. Recuperado de http://www.29rba.abant.org.br/resources/anais/1/140188550 3_ARQUIVO_TextoREA2014.pdf

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2010). Censo Demográfico 2010. Características gerais da população, religião e pessoas com deficiência. Rio de Janeiro: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Recuperado de ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/caracteristicas_religiao_deficiencia.pdf

Jodelet, D. (2009). O movimento de retorno ao sujeito e a abordagem das representações sociais. Socestado, 24(3), 679-712. Recuperado de https://dx.doi.org/10.1590/S0102-69922009000300004

Machado, D. (2020, Maio 16). As profecias apocalípticas e os delírios de fanáticos sobre a COVID-19. Diário do Rio.com: o jornal 100% carioca. Recuperado de https://diariodorio.com/dauro-machado-as-profecias-apocalipticas-e-os-delirios-de-fanaticos-sobre-a-COVID-19/

Matalon, C. E. (2014). A jornada da alma na dança dos caboclos:os símbolos da transformação na umbanda numa perspectiva interdisciplinar. Dissertação de Mestrado em Cultura e Sociedade: Diálogos Interdisciplinares pela Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, PR. Recuperado de http://tede.utp.br:8080/jspui/handle/tede/1549

Modino, L. M. (2020, Março 28). A fé em Deus diante do coronavírus. Deus não castiga ou testa ninguém: respeita, mostra solidariedade, ajuda... Instituto Humanitas/ADITAL. Recuperado de http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/597554-a-fe-em-deus-diante-do-coronavirus-deus-nao-castiga-ou-testa-ninguem-respeita-mostra-solidariedade-ajuda

Pereira, M. M., Ferreira, M. C., & Valentini, F. (2018). Evidências de Validade da Escala de Paixão pelo Trabalho em Amostras Brasileiras. Psico-USF, 23(1), 151-162. Recuperado de https://doi.org/10.1590/1413-82712018230113

Ribeiro, E. G., Souza, E. L., Nogueira, J. O., & Eler, R. (2020). Saúde Mental na Perspectiva do Enfrentamento à COVID -19: manejo das consequências relacionadas ao isolamento Social. Rev. Enfermagem e Saúde Coletiva, 4(2), 47-57. Recuperado de https://revesc.org/index.php/revesc/article/download/59/68

Rincon, P. (2020, Maio 1º). Coronavírus: há alguma evidência de que o sars-cov-2 tenha sido criado em laboratório? BBC News Brasil. Recuperado de https://www.bbc.com/portuguese/geral-52506223

Rocha, M. (2020). O poder da desinformação: Fake News, desonestidade intelectual e pós-verdade. Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Mato Grosso do Sul. Recuperado de http://oabms.org.br/artigo-o-poder-da-desinformacao-fake-news-desonestidade-intelectual-e-pos-verdade-marco-rocha/

Scorsolini-Comin, F., Rossato, L., Cunha, V. F., Correia-Zanini, M. R. G., & Pillon, S. C. (2020). A religiosidade/espiritualidade como recurso no enfrentamento da COVID-19. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, 10, e3723. Recuperado de DOI:10.19175/recom.v10i0.3723

Silva, O. J. (1980). Culto Omolokô: os filhos do terreiro. Rio de Janeiro: Rabaço Editora, 160p.

Spezani, R. S., Gomes, A. M. T., Brandão, J. L., Santos, L. F. M., & Gonçalves, C. C. (2020). Análise estrutural das representações da COVID-19 entre fiéis da Umbanda na Cidade do Rio de Janeiro. Research, Society and Development, 9(11), e46991110014. https://doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10014

Sue, V. M. & Ritter, L. A. (2012). Conducting online surveys. Thousand Oaks (CA): SAGE Publications, Inc. https://dx.doi.org/10.4135/9781506335186

Villas Boas, A. (2016). Em busca de uma teologia pública da saúde. Horizonte, 14(41), 89-121. https://doi.org/10.5752/P.2175-5841.2016v14n41p89

Vosoughi, S., Roy, D., & Aralet, S. (2018). The spread of true and false news online. Science, 359(6380), 1146-1151. doi: 10.1126/science.aap9559

Downloads

Publicado

26/12/2020

Como Citar

SPEZANI, R. dos S.; GOMES , A. M. T.; BRANDÃO, J. de L.; SANTOS, L. F. de M. dos; GONÇALVES, C. C. . Pensamentos de umbandistas da Cidade do Rio de Janeiro sobre a pandemia da COVID-19: interfaces entre religião, saúde e sociedade. Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 12, p. e33691211154, 2020. DOI: 10.33448/rsd-v9i12.11154. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/11154. Acesso em: 22 nov. 2024.

Edição

Seção

Ciências Humanas e Sociais