Violência contra crianças na primeira infância: uma análise dos casos notificados no estado do Pará-Brasil no período de 2009 a 2019
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i1.11839Palavras-chave:
Abuso; Infância; Notificação.Resumo
O presente estudo teve como objetivo analisar as características da violência praticada contra crianças na fase da primeira infância, notificada pelo setor de saúde no período de janeiro de 2009 a julho de 2019 no estado do Pará-Brasil, a partir de uma pesquisa de abordagem quantitativa, descritiva e exploratória. Os resultados demonstraram que a vitimização do sexo feminino (69,05%) foi mais notificada que a do sexo masculino (30,95%). Em relação à raça/cor, crianças pretas e pardas foram mais vitimadas (85,20%), tanto em relação às vítimas do sexo masculino quanto do sexo feminino. A violência ocorreu predominantemente na residência das crianças (86,26%). O tipo de violência que se destacou foi a violência sexual (36,35%), seguido da violência psicológica-sexual (14,85%) e da violência física-psicológica-sexual (14,19%). O conhecido da vítima representou o principal agressor (52,38%), seguido do pai em relação às crianças do sexo feminino e da mãe em relação às crianças do sexo masculino. O autor da violência foi predominantemente do sexo masculino em relação às vítimas do sexo feminino (56,23%) e predominante também em relação às vítimas do sexo masculino (21,47%). Foi possível verificar a prevalência da violência sexual associado à vítima do sexo feminino e o autor do sexo masculino. Os dados sugerem que um percentual importante de crianças na primeira infância no estado do Pará, estão vulneráveis à violência sexual, o que pode acarretar prejuízos ao seu desenvolvimento ao longo de todo o ciclo de vida.
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