Doenças negligenciadas e indústria farmacêutica: o caso da Doença de Chagas
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i2.12419Palavras-chave:
Doenças Negligenciadas; Doença de Chagas; Desenvolvimento de medicamentos.Resumo
O desenvolvimento de novos fármacos, no contexto das Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs), permanece como um grande desafio. Dentre as DTNs, destaca-se a Doença de Chagas (DC), a qual possui elevada morbimortalidade. Assim, este estudo objetiva resgatar informações acerca do cenário atual, bem como novas estratégias e inovações no tratamento farmacológico da DC. Para tal, foi realizada uma revisão narrativa, em que foram selecionados artigos no PubMed, SciELO e LILACS, no período entre 2015 e 2020. Buscando avaliar a relevância no meio acadêmico, comparou-se o número de publicações no SciELO entre 1950 e 2019, sobre DC, diabetes mellitus e câncer. Também se buscou informações sobre ensaios clínicos no site ClinicalTrials.gov. Nos últimos 20 anos, o número de publicações sobre a DC no SciELO foi bastante inferior se comparado com diabetes mellitus e câncer. Ademais, apenas dois medicamentos estão disponíveis, sendo eles benznidazol e nifurtimox, os quais possuem limitações como a quantidade de efeitos adversos. Por isso, novas opções terapêuticas (grânulos, sistemas multiparticulados, etc) têm sido estudadas, principalmente no caso do benznidazol, tendo demonstrado resultados promissores quanto à otimização de toxicidade, absorção e biodisponibilidade, por exemplo. Quanto aos ensaios clínicos, foi encontrado um total de sete estudos, os quais investigam cinco compostos para o tratamento da DC. Somente um dos compostos não tem uso clínico já registrado, o selênio, o que sugere uma deficiência na busca por novos candidatos à fármacos. Tais informações reforçam, portanto, o caráter negligenciado da DC, bem como enfatizam a importância de pesquisar novas terapias para esta parasitose.
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