Bactérias multirresistentes e seus impactos na saúde pública: Uma responsabilidade social

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33448/rsd-v10i6.16303

Palavras-chave:

Farmacorresistência Bacteriana; Infecções Bacterianas; Saúde pública.

Resumo

Introdução: Seres humanos convivem de modo comensal com inúmeras bactérias, porém espécies patogênicas assolaram a humanidade por milênios até o advento dos primeiros antibióticos. Entretanto, o uso indiscriminado de antibióticos, tanto em hospitais quanto na agropecuária, tem gerado altas taxas de resistência bacteriana e se tornado um problema com disrupção eminente. O presente estudo visa analisar a etiologia multifatorial dos mecanismos de multirresistência bacteriana, a prevalência das principais bactérias envolvidas nesse processo e seu impacto na saúde pública. Metodologia: Trata-se uma revisão integrativa de literatura acerca dos processos e consequências da resistência bacteriana. O critério de inclusão foi a compatibilidade com o tema e a relevância. Resultados: Analisados 46 artigos dos quais metade são artigos originais. Dentre estes, 6 artigos realizaram levantamento da prevalência de bactérias farmacorresistentes em ambientes nosocomiais, com amostragem de 646 pacientes nos quais foram isolados Klebsiella pneumoniae em 27,11%, Pseudomonas aeruginosa em 19%, seguida por Escherichia coli com 16%, e Staphylococcus aureus com 4,75%. Discussão: Com 25 a 50% das administrações antibióticas em hospitais consideradas irregulares, seu uso indiscriminado e a lenta formulação de novas opções terapêuticas, entre outros, contribuiu com o desenvolvimento de cepas bacterianas multirresistentes durante a era dos antimicrobianos. Os principais mecanismos de farmacorresistência incluem modificação antibiótica; impedimento da ação do antibiótico em seu alvo; alteração do sítio primário de ligação; e produção de alvo alternativo para burlar o efeito do fármaco. Considerações Finais: A multirresistência bacteriana aumenta a morbimortalidade, tempo de internação e gastos com insumos e equipe especializada. Estabeleceu-se como um problema que tende a agravar com o tempo, portanto, estudos abrangentes focados na prevalência bacteriana são necessários para traçar estratégias de saúde pública visando seu controle.

Biografia do Autor

Diego Antônio de Almeida Nunes, Centro Universitário São Lucas

Possui graduação em Medicina pelo Centro Universitário São Lucas (2011). Atualmente é Cirurgião Geral com residência médica no Hospital Universitário de Brasília (HuB/UnB) e professor de Ensino Superior, disciplina de Anatomia Humana e chefe da disciplina de Clinica Cirúrgica I desde janeiro de 2019 do Centro Universitário São Lucas. Trabalhou 1 ano e meio no Programa de Saúde da Família, 1 ano serviço militar (Força Aérea Brasileira). Preceptor do Internato médico do Centro Universitário São Lucas e Universidade Federal de Rondônia em Clínica Cirúrgica. Preceptor colaborador do Programa de Residência Médica em Cirurgia Geral do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro, Porto Velho - Rondônia. Mestre em Ensino em Ciência da Saúde pela Fundação Universidade Federal de Rondônia. Membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) desde novembro de 2017.

Viviane Krominski Graça de Souza, Universidade Estadual de Maringá

Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (1997), mestrado (2002) e doutorado (2006) em Microbiologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Foi docente/pesquisadora do Centro Universitário São Lucas em Porto Velho-RO, onde ministrou as disciplinas de Microbiologia e Imunologia. Foi Editora da Revista Eletrônica Saber Científico do Centro Universitário São Lucas. Tem experiência nas áreas de Microbiologia e Biologia Molecular, com ênfase em Protozoologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Trypanosoma cruzi, Phytomonas serpens, Leishmania, reatividade antigênica, linfoproliferação, clonagem, expressão gênica e proteômica. Atualmente, realiza pós-doutoramento na Universidade Estadual de Maringá, na área metabolômica e atividade antimicrobiana de óleos essenciais.

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Publicado

10/06/2021

Como Citar

CARVALHO, J. J. V. de; BOAVENTURA, F. G.; SILVA, A. de C. R. da; XIMENES, R. L.; RODRIGUES, L. K. C.; NUNES, D. A. de A.; SOUZA, V. K. G. de . Bactérias multirresistentes e seus impactos na saúde pública: Uma responsabilidade social. Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 6, p. e58810616303, 2021. DOI: 10.33448/rsd-v10i6.16303. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/16303. Acesso em: 17 jul. 2024.

Edição

Seção

Ciências da Saúde