Experiências de vida e o trauma no conteúdo da audição de vozes
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i11.19748Palavras-chave:
Saúde Mental; Trauma Psicológico; Alucinações; Enfermagem; Ouvir vozesResumo
Este artigo teve como objetivo discutir a relação das experiências de vida e do trauma com a audição de vozes, e o conteúdo relacionado a ambos. Estudo de caráter qualitativo, realizado com 12 participantes de um Grupo Virtual de Auto Mútua Ajuda no período de setembro a outubro de 2020. Utilizou-se da análise temática de Minayo para a interpretação das entrevistas, que resultou em duas categorias: (a) experiências de vida e traumas relacionados ao fenômeno de ouvir vozes e (b) conteúdo das vozes e sua relação com o trauma. Nesta pesquisa, os participantes relataram diversos eventos/situações de vida que tiveram relação com a sua experiência de audição de vozes, como abuso sexual, mudança de residência, violência institucional, assédio, conflitos familiares, relacionamento abusivo e bullying. Situações de vida traumáticas como as relatadas pelos participantes, as quais são muitas vezes evitadas, reprimidas subjetivamente, tendem a retornar como manifestações do inconsciente, seja nos sonhos, chistes, atos falhos, ou como vozes. Este estudo identificou que as vozes ouvidas pelas/os participantes são reflexo de emoções e sentimentos que ficaram latentes. Desse modo, mostra-se necessário a mudança de perspectiva sobre o condicionamento patológico despendido a essa experiência, de maneira a considerar as situações e traumas vivenciados, e proporcionar um enfrentamento positivo na relação com as vozes. Ressalta-se a carência de estudos que reflitam sobre a necessidade de explorar a história de vida destes ouvidores e as relações do trauma com a experiência de ouvir vozes.
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