Experiências de vida e o trauma no conteúdo da audição de vozes

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33448/rsd-v10i11.19748

Palavras-chave:

Saúde Mental; Trauma Psicológico; Alucinações; Enfermagem; Ouvir vozes

Resumo

Este artigo teve como objetivo discutir a relação das experiências de vida e do trauma com a audição de vozes, e o conteúdo relacionado a ambos. Estudo de caráter qualitativo, realizado com 12 participantes de um Grupo Virtual de Auto Mútua Ajuda no período de setembro a outubro de 2020. Utilizou-se da análise temática de Minayo para a interpretação das entrevistas, que resultou em duas categorias: (a) experiências de vida e traumas relacionados ao fenômeno de ouvir vozes e (b) conteúdo das vozes e sua relação com o trauma. Nesta pesquisa, os participantes relataram diversos eventos/situações de vida que tiveram relação com a sua experiência de audição de vozes, como abuso sexual, mudança de residência, violência institucional, assédio, conflitos familiares, relacionamento abusivo e bullying. Situações de vida traumáticas como as relatadas pelos participantes, as quais são muitas vezes evitadas, reprimidas subjetivamente, tendem a retornar como manifestações do inconsciente, seja nos sonhos, chistes, atos falhos, ou como vozes. Este estudo identificou que as vozes ouvidas pelas/os participantes são reflexo de emoções e sentimentos que ficaram latentes. Desse modo, mostra-se necessário a mudança de perspectiva sobre o condicionamento patológico despendido a essa experiência, de maneira a considerar as situações e traumas vivenciados, e proporcionar um enfrentamento positivo na relação com as vozes. Ressalta-se a carência de estudos que reflitam sobre a necessidade de explorar a história de vida destes ouvidores e as relações do trauma com a experiência de ouvir vozes.

Biografia do Autor

Thylia Teixeira Souza, Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Enfermeira, Mestre em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Residente em Saúde Mental pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).

Luciane Prado Kantorski, Universidade Federal de Pelotas

Enfermeira, Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo -EERP-Ribeirão Preto, Professora Titular da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).

Liamara Denise Ubessi, Universidade Federal de Pelotas

Psicóloga, Enfermeira, Doutora e Pós-Doutoranda em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).

Roberta Antunes Machado, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul

Enfermeira, Doutora em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Docente no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS).

Milena Hohmann Antonacci , Universidade Federal de Pelotas

Enfermeira, Doutora em Enfermagem Psiquiátrica da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP, Professora do Departamento de Enfermagem Hospitalar na Rede de Assistência à Saúde da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas - FEn/UFPEL.

Carmen Terezinha Leal Argiles , Universidade Federal de Pelotas

Psicóloga, Doutora em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).

Janaina Quinzen Willrich , Universidade Federal de Pelotas

Enfermeira, Doutora em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e Docente Adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas - FEn/UFPEL.

Referências

Baker, P. (2019). A voz interior: um guia prático para e sobre pessoas que ouvem vozes. UFPA/IFCHQ/PPGP/NUFEN.

Bender, A. R. M. J., Tavares, D. H., Coradini, D. R., Lopes, I. F., Farias, I. D., Silva, L. D., Ubessi, L. D., & Silveira, P. B. Um desafio cotidiano: aprender a conviver com as vozes. (2018). J. nurs. health. 8(n.esp.).

Brasil (2012). Resolução nº466, de 12 de dezembro de 2012. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Ministério da Saúde – 12/12/2012.

Brasil (2016). Resolução nº 510, de 07 de abril de 2016. A ética em pesquisa implica o respeito pela dignidade humana e a proteção devida aos participantes das pesquisas científicas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União – 07/04/2016.

Cardano, M. (2018). O movimento internacional de Vozes: as origens de uma tenaz prática de resistência. J. nurs. health. 8(n.esp.).

Cardoso, C. S., Pereira, V. R., Oliveira, N. A., & Coimbra, V. C. C. (2018). A escuta de vozes na infância: uma revisão integrativa. J. nurs. health. 8(n.esp.).

Corstens, D., & Longden, E. (2013). The origins of voices: links between life history and voice hearing in a survey of 100 cases. Psychosis. 5(3), 270-285.

Couto, M. L. O, & Kantorski, L. P. (2020). Ouvidores de vozes de um serviço de saúde mental: características e estratégias de enfrentamento. Psicologia & Sociedade, 32, 1-18.

Couto, M. L. O., & Kantorski, L. P. (2018). Ouvidores de vozes: uma revisão sobre o sentido e a relação com as vozes. Psicologia USP, 29(3), 418-431.

Fernandes, H. C. D., & Zanello, V. (2020). Escutar (as) Vozes: Da qualificação da experiência à possibilidade de cuidado. Psic.:Teor e Pesq., 36, e3643.

Fernandes, H. C. D., & Zanello, V. (2018). Para além da alucinação auditiva como sintoma psiquiátrico. J. nurs. health. 8(n.esp.).

Freud, S. (1996). Conferências introdutórias sobre psicanálise (parte III - 1915/1916). Imago.

Freud, S. (1996). Perda da realidade na neurose e na psicose (1924b). Imago.

Freud, S. (2011). O eu e o id, “autobiografia” e outros textos (1923-1925). Companhia das letras,

Fulgencio, L. (2004). A noção de trauma de Freud e Winnicott. Natureza Humana, 6(2), 255-270.

INTERVOICE – The International Hearing Voices Network. (2020). Patsy Hage: Inspiration. https://www.intervoiceonline.org/about-intervoice/patsy-hague-inspiration

Kantorski, L. P., Machado, R. A., Santos, C. G., Couto, M. L. O., & Ramos, C. I. (2020). Análise de gênero dos conteúdos das vozes que os outros não ouvem. Psicologia Em Estudo, 25, e49973.

Kantorski, L. P., Ramos, C. I., Santos, C. G., Couto, M. L. O., Machado, R. A., & Oliveira, M. M. (2019). Audição de vozes: análise de registros em prontuários de um Centro de Atenção psicossocial. Revista Uruguaya de Enfermeria, 14(1), 7-18.

Kantorski, L. P., Cardano, M., Couto, M. L. O., Silva, L. S. S. J., & Santos, C. G. (2018). Situações de vida relacionadas ao aparecimento das vozes: com a palavra os ouvidores de vozes. J. nurs. Health, 8(n.esp.).

Luhrmann, T.M., Alderson-Day, B., Bell, V., Bless, J. J., Corlett, P., Hugdahl, K., Jones, N., Larøi, F., Moseley, P., Padmavati, R., Peters, E., Powers, A. R., & Waters, F. (2019). Beyond Trauma: A Multiple Pathways Approach to Auditory Hallucinations in Clinical and Nonclinical Populations. Schizophrenia Bulletin, 45(suppl.1), S24–S31.

Machado, R. A. (2021). Mulheres que ouvem vozes: tecendo rede de saberes e experiências acerca da audição de vozes. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Pelotas, RS, Brasil.

McCarthy-Jones, S., Waegeli, A., & Watkins, J. (2013). Spirituality and hearing voices: considering the relation. Psychosis, 5(3), 247-258.

Minayo, M. C. S. (2014). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Editora Vozes.

Moreira-Almeirda, A., & Cardena, E. (2011). Diagnóstico diferencial entre experiências espirituais e psicóticas não patológicas e transtornos mentais: uma contribuição de estudos latino-americanos para o CID-11. Rev. Bras. Psiquiatr., 33(suppl. 1), 21-28.

Nierop, M. V., Lataster, T., Smeets, F., Gunther, N., Zelst, C. V., Graaf, R., Have, M. T., Dorsselaer, S. V., Bak, M., Myin-Germeys, I., Viechtbauer, W., Os, J. V., & Winkel, R. V. (2014). Psychopathological mechanisms linking childhood traumatic experiences to risk of psychotic symptoms: Analysis of a large, representative population-based sample. Schizophrenia Bulletin, 40(2), 123-130.

Oliveira, H. M., & Filho, A. B. M. (2014). Sobre as alucinações: o que Freud enxergava nas vozes de Schreber? Cad. psicanal., 36(31), 129-149.

Perona-Garcelán, S., García-Montes, J. M., Rodríguez-Testal, J. F., López-Jiménez, A. M., Ruiz-Veguilla, M., Ductor-Recuerda, M. J., Benítez-Hernández, M. D., Arias-Velarde, M. A., Gómez-Gómez, M. T., & Pérez-Álvarez, M. (2014). Relationship Between Childhood Trauma, Mindfulness, and Dissociation in Subjects With and Without Hallucination Proneness. Journal of Trauma and Dissociation, 15(1), 35-51.

Romme, M., & Escher, S. (1997). Na companhia das vozes: para uma análise da experiência de ouvir vozes. Editorial Estampa.

Romme, M., Escher, S., Dillon, J., Corstens, D. D., & Morris, M. (2009). Living with Voices: 50 Stories of Recovery. PCCS Books.

Rosen, C., Jones, N., Longden, E., Chase, K. A., Shattell, M., Melbourne, J. K., Keedy, S. K., & Sharma, R. P. (2017). Exploring the intersections of trauma, structural adversity, and psychosis among a primarily african-american sample: a mixed-methods analysis. Front Psychiatry, 8, 1-11.

Souza, T. T., Couto, M. L. O., & Kantorski, L. P. (2018). Uma nova visão acerca da experiência de ouvir vozes, J. nurs. Health, 8(n.esp.).

Yildirim, M. H., Yildirim, E. A., Kaser, M., Guduk, M., Fistikci, N., Cinar, O., & Yuksel, S. (2014). The relationship between adulthood traumatic experiences and psychotic symptoms in female patients with schizophrenia. Comprehensive Psychiatry, 55(8), 1847-1854.

Downloads

Publicado

07/09/2021

Como Citar

SOUZA, T. T.; KANTORSKI, L. P.; UBESSI, L. D.; MACHADO, R. A.; ANTONACCI , M. H.; ARGILES , C. T. L. .; WILLRICH , J. Q. Experiências de vida e o trauma no conteúdo da audição de vozes. Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 11, p. e517101119748, 2021. DOI: 10.33448/rsd-v10i11.19748. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/19748. Acesso em: 21 nov. 2024.

Edição

Seção

Ciências da Saúde