Deficiência e COVID-19: “fazer viver e deixar morrer”?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33448/rsd-v11i2.25803

Palavras-chave:

Covid-19; Deficiência; Eugenia; Biopolítica; Ética.

Resumo

O ensaio estabelece correlações históricas entre medidas de engenharia social e eugenia, afetando o acesso aos cuidados de saúde de pessoas com deficiência durante a Pandemia no Brasil. Circunstâncias históricas remontam “ideais” propostos pelas Ligas de Eugenia, afetam a equidade em saúde de pessoas com deficiência durante essa crise sanitária. Examinam-se aspectos éticos relacionados na relação Covid-19 e deficiência diante da justificativa da escassez de recursos na Pandemia. Expostos entre “fazer viver, deixar morrer”, busca-se compreender impactos da pandemia nos territórios existenciais de pessoas com deficiência. Reflete-se acerca das “orientações” e “avaliações clínicas” deixam-se atravessar historicamente pela governamentalidade das práticas discursivas, afetando corpos dos sujeitos e o “corpo da sociedade”. A lógica economicista perpassa recomendações do “saber médico” corponormativando corpos que serão priorizados, em detrimento dos segmentos populacionais expostos à doença. Esse biodeterminismo aplicado à triagem de vítimas de Covid-19, abordado no trabalho de Milićević, explicita o uso da deficiência como fator de negação ao tratamento. Reinstitui-se a antinomia “normal”/“anormal” na tentativa de neutralizar a necropolítica no enfrentamento da Covid-19. O ensaio refere-se à Foucault dispondo a biopolítica do aparato médico para lidar com a população como problema científico e político. Para considerar o biodeterminismo que suprime o direito dos sujeitos, recorre-se à bioética pós-moderna de Engelhardt, examinando a atenção emergencial de pessoas com deficiência. O manuscrito trilha caminho bioético debate a equidade em saúde e eficiência na alocação de recursos. Finalmente, reflete-se sobre formas de contribuição da sociedade no mundo pós-pandêmico, privilegiando ético-esteticamente territórios existenciais das pessoas com deficiência.

Referências

AMIB (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), ABRAMEDE (Associação Brasileira de Medicina de Emergência, SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos). (2020) Protocolo de alocação de recursos em esgotamento durante a pandemia por COVID-19.

Amorim, A. C. (2016) A Política Nacional de Humanização – PNH: O método da tríplice inclusão e participação social de gestores, trabalhadores da saúde e usuários do/no SUS. Tese de Doutorado, ENSP/Fiocruz-RJ.

Amorim, A. C. (1997). ‘O Espetáculo da Loucura’ – Alienismo Oitocentista ... Psiquiatria do III Milênio: a Construção social da Linguagem do Déficit e a progressiva enfermidade da Cultura. Dissertação de Mestrado, UERJ-RJ.

Amorim, A. C; Gertner, S; Amorim, L. (2018) Cartografia histórico-conceitual da “deficiência”: construção social feita de “invisibilidades/visibilidades” e de utopias. In: Uma Ponte ao Mundo – Cartografias Existenciais da Pessoa com Deficiência e o Trabalho.” Goiânia: Kelps. https://multiplicadoresdevisat.com

Amorim, A. C; Costa, L. S.; Gertner, S. C. B.; Feminella, A. P; Bernardes, V. (2021) A linguagem como operadora do déficit na cultura: O viés capacitista na saúde e educação. In: Research, Society, Development, v. 10, n.9, e21210917889, http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i9.17889.

Baumann, Z. (1999) Globalização – As Consequências Humanas. RJ: Zahar.

Borges S. A. C. (2015). Territórios existenciais ético-estéticos em Saúde Coletiva. Revista de Psicologia.; 27(2):107-113.

Cha, A. E (2020). Quadriplegic man’s death from Covid-19 spotlights questions of disability, race and family. https://www.google.ch/amp/s/www.washingtonpost.com/health/2020/07/05/coronavirus-disability-death/%3foutputType=amp

Foucault, M. (2005). Em Defesa da Sociedade. SP: Martins Fontes. 4a Edição.

Hotois. G. (2003) História da Filosofia – da Renascença à Pós-Modernidade. Lisboa: Instituto Piaget. https://www.amib.org.br/fileadmin/user_upload/amib/2020/abril/24/VJS01_maio

Karin. S. A. (2020) COVID-19 vaccine affordability and accessibility. By SAfura Abdool. The Lancet Journal. https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140- (20206736(20)31540-3/fulltext

Editorial The Lancet (“No more normal”) (July 18, 2020). https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)31591-9/fulltext

Luna, L. (2009). Fazer viver, deixar morrer. A má fé da Saúde Pública no Brasil. In: A Ralé Brasileira (Org. Jessé Souza). 305-327, Edit: UFMG:MG.

McRuer, R. (2010). Disability nationalism in crip times. In: Journal of Literary & Cultural Disability Studies, 4, 163–178. doi:10.3828/jlcds.2010.13

Milićević, M. (2020). The research priorities in disability studies related to COVID-19. Belgrade School of Special Education and Rehabilitation Vol. 26, No. 1, str. 9-28. https://rfasper.fasper.bg.ac.rs/bitstream/handle/123456789/3549/the_research_priorities_in_disability_studies_related_to_covid-19_.pdf

Portocarrero, V. (2009) Vida, Genealogia da Ética e Estética da Existência. In; As Ciências da Vida – De Canguilhem a Foucault. RJ: Editora Fiocruz.

Soldatic, K. (2013). The transnational sphere of justice: disability praxis and the politics of impairment. In: Disability & Society, 28:6, 744-755. https://doi.org/10.1080/09687599.2013.802218

Soldatic, K. (2015). Postcolonial reproductions: disability, indigeneity and the formation of the white masculine settler state of Australia. In: Social Identities - Journal for the Study of Race, Nation and Culture, 21:1, 53-68, http://dx.doi.org/10.1080/13504630.2014.995352

Stepan, NL (2004). Eugenia no Brasil, 1917-1940. Editora FIOCRUZ. História e Saúde collection, pp. 330-391. ISBN 978-85-7541-311. SciELO Books http://books.scielo.org.

Tazzioli, M. (2018) O Governo da Turba? Produção do Resto e seu Excesso. In: O Pensamento Político de Michel Foucault (Avelino & Vaccaro, Orgs), SP : Intermeios.

Downloads

Publicado

25/01/2022

Como Citar

AMORIM, A. C. Deficiência e COVID-19: “fazer viver e deixar morrer”? . Research, Society and Development, [S. l.], v. 11, n. 2, p. e27111225803, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i2.25803. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/25803. Acesso em: 3 jul. 2024.

Edição

Seção

Ciências da Saúde