Memórias botânicas de um raizeiro: manutenção do saber local e da biodiversidade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33448/rsd-v11i5.28216

Palavras-chave:

Conhecimento tradicional; Etnobotânica; Plantas medicinais.

Resumo

É sabido que a exploração dos ambientes naturais por povos tradicionais fornece subsídios para estratégias de manejo e, por isso, o resgate do conhecimento tradicional acerca do uso das plantas é de grande importância. Nesse contexto, a etnobotânica assume um papel fundamental. No Brasil, as informações etnobotânicas têm subsistido de pai para filho, através da transmissão oral, e podem ser obtidas nas feiras livres, por meio de raizeiros e vendedores de plantas medicinais. No entanto, essa prática diminui à medida que a urbanização e a tecnologia avançam para além das grandes cidades. Com o objetivo de resgatar esse saber empírico e valorizar o conhecimento tradicional foram realizadas entrevistas, do tipo “interlocução livre”, com um antigo raizeiro de Cuiabá-MT. As entrevistas ocorreram nas feiras onde o raizeiro mantém suas barracas e registraram seus conhecimentos e experiências, bem como sua relação com as plantas. Do total de espécies comercializadas em sua barraca, 71,5% são nativas, valor que reforça a necessidade de projetos e políticas que visem a preservação da flora nativa e o desenvolvimento econômico das populações humanas que dependem destes recursos. O raizeiro mostrou preocupação com a crescente degradação ambiental e com a falta de conexão existente entre pais e filhos, que prejudica a transmissão oral necessária para a manutenção do conhecimento local. Este estudo confirma que raizeiros são detentores do saber tradicional e não apenas carregam consigo informações a respeito das plantas, mas também são fontes de conhecimentos acerca da ecologia e sustentabilidade ambiental.

Referências

Agra, M. F. (1996). Plantas medicinais populares dos Cariris Velhos, Paraíba – Brasil: espécies mais comuns. PNE.

Albuquerque, U. P. (2002). Introdução à Etnobotânica. Edições Bagaço.

Albuquerque, U. P. & Andrade, L. H. C. (2002). Conhecimento botânico tradicional e conservação em uma área de Caatinga no estado de Pernambuco, nordeste do Brasil. Acta Botanica Brasilica, 16(3), 273-285.

Amorozo, M. C. M. (2002). Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antônio do Leverger, Mato Grosso, Brasil. Acta Botanica Brasilica, 16(2), 189-203.

Araújo, C. R. F., Oliveira, J. O. D., Resende, J. C., Bezerra, M. G. P., Costa, E. P. & Coutinho, M. S. (2014). Raizeiros e raizeiras enquanto multiplicadores do conhecimento popular: um resgate na literatura. Revista Saúde e Ciência, 3(1), 35-43.

Araújo, T. S., Castro, E. F. P., Brito, C. R., Aguiar, M. C. R. D. & Carvalho, M. C. R. D. (2003). Perfil sócio-econômico dos raizeiros que atuam na cidade de Natal – RN. Infarma, 15(1/3), 77-79.

Azevedo, S. K. S. & Silva, I. M. (2006). Plantas medicinais e de uso religioso comercializadas em mercados e feiras livres no Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Acta Botanica Brasilica, 20(1), 185-194.

Botrel, R. T., Rodrigues, L. A., Gomes, L. J, Carvalho, D. A. & Fontes, M. A. L. (2006.) Uso da vegetação nativa pela população de Ingaí, MG, Brasil. Acta Botanica Brasilica, 20(1), 143-156.

Caballero, J. (1979). La Etnobotânica. 27-30. In: Barrera, A. (ed.). La Etnobotânica: três puntos de vista y uma perspectiva. Xalapa: INIREB.

Cordeiro, J. M. P. & Félix, L. P. (2014). Conhecimento botânico medicinal sobre espécies vegetais nativas da caatinga e plantas espontâneas no agreste da Paraíba, Brasil. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 16(3), supl. 1, 685-692.

Corrêa, A. D., Batista, R. S. & Quintas, L. E. M. (1998). Plantas medicinais do cultivo à terapêutica. (4a ed.), Editora Vozes.

Cuiabá - Prefeitura Municipal de Cuiabá. (2007). Evolução do perímetro urbano de Cuiabá – 1938 a 2007. IPDU - Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano.

Cuiabá - Prefeitura Municipal de Cuiabá. (2009). Perfil socioeconômico de Cuiabá, vol.4. In: Santos, A. B. (org.). IPDU / Central de Texto.

Cuiabá - Prefeitura Municipal de Cuiabá. (2010). Composição dos bairros de Cuiabá – data base dezembro de 2009. IPDU - Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano.

Cuiabá - Prefeitura Municipal de Cuiabá. (2014). Feiras livres. https://www.cuiaba.mt.gov.br/secretarias/trabalho-e-desenv-economico/feiras-livres/.

Dantas, I. C. & Guimarães, F. R. (2006). Perfil dos raizeiros que comercializam plantas medicinais no município de Campina Grande, Paraíba. Revista de Biologia e Ciências da Terra, 6(1), 39-44.

Diegues, A. C. (2008). O mito moderno da natureza intocada. (6a ed.), Hucitec.

Ferraz, J. S. F., Albuquerque, U. P & Meunier, I. M. J. (2006). Valor de uso e estrutura da vegetação lenhosa às margens do riacho do Navio, Floresta, PE, Brasil. Acta Botanica Brasilica, 20(1), 125-134.

Flora do Brasil. (2020). Reflora: Flora do Brasil 2020 - algas, fungos e plantas. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. http://floradobrasil.jbrj.gov.br/.

Freitas, A. V. L., Coelho, M. F. B., Azevedo, R. A. B. & Maia, S. S. S. (2012). Os raizeiros e a comercialização de plantas medicinais em São Miguel, Rio Grande do Norte, Brasil. Revista Brasileira de Biociências, 10(2), 147-156.

Garcia, P. B., Lyra, G., Ferreira, L. & Alves, J. C. S. (1991). Memórias de um raizeiro: Izidio Salustiano Diniz. Cadernos de Educação Popular, vol.18. Petrópolis: Editora Vozes.

Google Earth Pro. (2021). Versão 7.3.4. Maxar Technologies. https://earth.google.com/web/@-15.56679953,-56.04174127,202.47112678a,7660.65865702d,35y,-0h,0t,0r?utm_source=earth7&utm_campaign=vine&hl=pt-BR.

Guarim Neto, G. (1996). Ocorrência e distribuição da família Sapindaceae Jussieu nos estados de Mato Grosso, Goiás e Tocantins. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, 12(2), 145-164.

Guarim Neto, G. (2005). As plantas medicinais e a educação ambiental: uma conexão interdisciplinar. In: Anais do IV Encontro de Educadores Ambientais de Mato Grosso - REMTEA. Cuiabá: UFMT.

Guarim Neto, G. & Morais, R. G. (2003). Recursos medicinais de espécies do Cerrado de Mato Grosso: um estudo bibliográfico. Acta Botanica Brasilica, 17(4), 561-584.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2010). Censo Demográfico de 2010. http://www.censo2010.ibge.gov.br.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2021). Cidades e Estados. https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/mt/cuiaba.html.

Januário, E.R.S. (2006a). As vidas do ribeirinho. Cáceres: Editora UNEMAT.

Januário, E.R.S. (2006b). Memórias do beira-rio. Cáceres: Editora UNEMAT.

Kubo, R. (2006). Reflexões em torno da cultura baseada em uma experiência em área de Mata Atlântica no Rio Grande do Sul. 479-484. In: Mariath, J. E. A. & Santos, R. P. (eds.). Os avanços da Botânica no início do século XXI – morfologia, fisiologia, taxonomia, ecologia e genética. Porto Alegre: Sociedade Botânica do Brasil.

Lamarca, E. V., Oliveira Júnior, C. J. F. & Barbedo, C. J. (2020). Etnobotânica na conservação de espécies com sementes sensíveis à dessecação: o exemplo da Eugenia brasiliensis Lam., Hoehnea, 47, e372019.

Loch, V. C., Saraiva, R. V. C., Souza, R., Barroso, K., Sobrinho, M. R. & Silva, H. R. (2020). Os raizeiros e as plantas medicinais comercializadas nas feiras livres de São Luís, MA. Cadernos de Agroecologia (Anais do XI Congresso Brasileiro de Agroecologia, São Cristóvão-SE), 15 (2).

Lorenzi, H. & Matos, F. J. (2021). Plantas medicinais no Brasil, nativas e exóticas. (3ª ed.), Instituto Plantarum.

Loyola, M. A. (1984). Médicos e Curandeiros - conflito social e saúde. Editora DIFEL.

Macena, L. & Vila, N. (2020). Etnobotânica e a adoção de práticas agroecológicas segundo a percepção dos assentados do assentamento Palmares. Biodiversidade, 19(1), 50-66.

Pasa, M. C. (2020). Medicina tradicional em comunidades mato-grossenses. Biodiversidade, 19(2), 2-19.

Pasa, M. C., Soares, J. J. & Guarim Neto, G. (2005). Estudo etnobotânico na comunidade de Conceição – Açu (Alto da Bacia do Rio Aricá Açu, Mato Grosso, Brasil). Acta Botanica Brasilica, 19(2), 195-207.

Pereira, A. G., Alcantara, L. C. S., Oliveira, R. E. & Sais, A. C. (2021). Plantas com potencial medicinal em quintais agroflorestais: diversidade entre comunidades rurais do Portal da Amazônia - Mato Grosso, Brasil. Research, Society and Development, 10(6), e59010615713.

Prado, A. C. C., Rangel, E. B., Sousa, H. C. & Messias, M. C. T. B. (2019). Etnobotânica como subsídio à gestão socioambiental de uma unidade de conservação de uso sustentável. Rodriguésia, 70, e02032017.

Sganzerla, C. M., Predebon, A. J., Veloso, J. J. & Roman Junior, W. A. (2022). A etnobotânica como influenciadora da prospecção farmacológica. Revista Fitos, supl (1), 93-97.

Silva-Almeida, M. F. & Amorozo, M. C. M. (1998). Medicina popular no Distrito de Ferraz, município de Rio Claro, Estado de São Paulo. Brazilian Journal of Ecology, 2(1), 36-46.

Souza, C. D. & Felfili, J. M. (2006). Uso de plantas medicinais na região de Alto Paraíso de Goiás, GO, Brasil. Acta Botanica Brasilica, 20(1), 135-142.

Souza, G. C. (2006). O papel da etnobotânica na conservação da biodiversidade. 493-496. In: Mariath, J. E. A. & Santos, R. P. (eds.). Os avanços da Botânica no início do século XXI – morfologia, fisiologia, taxonomia, ecologia e genética. Porto Alegre: Sociedade Botânica do Brasil.

Telesi Júnior, E. (2016). Práticas integrativas e complementares em saúde, uma nova eficácia para o SUS. Estudos Avançados, 30(86), 99-112.

The Angiosperm Phylogeny Group, Chase, M. W., Christenhusz, M. J. M., Fay, M. F., Byng, J. W., Judd, W. S., Soltis, D. E., Mabberley, D. J., Sennikov, A. N., Soltis, P. S. & Stevens, P. F. (2016). An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG IV, Botanical Journal of the Linnean Society, 181(1), 1-20.

Thompson, P. (1992). A voz do passado – história oral. (2a ed.), Editora Paz e Terra S.A.

Torres-Cuadros, M. A. & Islebe, G. A. (2003). Tradicional ecological knowledge and use of vegetation in southeastern México: a case study from Solferino, Quintana Rôo. Biodiversity and Conservation, 12, 2455-2476.

Veiga, J. B. & Scudeller, V. V. (2011). Quintais agroflorestais da comunidade ribeirinha São João do Tupé no baixo rio Negro, Amazonas. 523-543. In: Santos-Silva, E.N., Scudeller, V. V. & Cavalcanti, M. J. (orgs.). BioTupé: meio físico, diversidade biológica e sociocultural, v.3. Manaus: Rizoma Editorial.

Veiga Junior, V. F., Pinto, A. C. & Maciel, M. A. M. (2005). Plantas medicinais: cura segura? Química Nova, 28(3), 519-528.

WHO - World Health Organization. (2002). The World Health Report 2002: Reducing risks, promoting healthy life. Geneva: World Health Organization. http://www.who.int/whr/2002/en/whr02_en.pdf.

Downloads

Publicado

08/04/2022

Como Citar

SILVA, J. S. Memórias botânicas de um raizeiro: manutenção do saber local e da biodiversidade. Research, Society and Development, [S. l.], v. 11, n. 5, p. e32011528216, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i5.28216. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/28216. Acesso em: 27 set. 2024.

Edição

Seção

Ciências Agrárias e Biológicas