A questão hídrica no contexto da produção pecuária bovina na Amazônia norte mato-grossense: um quadro dos principais agravos
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v11i13.35606Palavras-chave:
Água; Pecuária bovina; Matas ciliares; Amazônia norte mato-grossense.Resumo
O objetivo deste estudo é analisar os impactos da pecuária bovina de corte sobre os recursos hídricos na Amazônia norte-mato-grossense. A área de estudo (Norte 2) (IMEA, 2010) é composta por 17 municípios. A pesquisa optou pela abordagem qualitativa, com procedimentos da revisão bibliográfica e levantamento de dados socioeconômicos regionais (PRODES e IBGE-SIDRA). Como técnica de aproximação da realidade, entre os anos de 2018 a 2021, foram visitadas 300 propriedades situadas às margens da BR-163 e das rodovias estaduais (MT-206, MT-208, MT-319, MT-320, MT-322) a fim de observação e registro fotográfico. Foram ouvidos 60 interlocutores com vivência local (técnicos das Secretarias de Meio Ambiente e Agricultura, secretários municipais, pecuaristas, agricultores, camponeses, agrônomos, biólogos, dentre outros profissionais). Registrou-se que, além da supressão da floresta, houve diminuição drástica das matas ciliares, comprometendo enormes porções dos recursos hídricos e resultando em grave problemática. Ademais, pôde-se ver a dessedentação dos animais diretamente nos corpos hídricos, assoreamento, manejo inadequado do solo (encrostamento e parca recuperação de pastagens) e dos recursos hídricos (uso inadequado de nascentes e córregos, com alteração dos canais, represamentos sequenciais inadequados e irregulares) que comprometem diretamente o fluxo hidrológico. As Áreas de Proteção Permanente (APPs) – previstas na legislação brasileira – foram suprimidas gravemente, diminuindo a vitalidade das nascentes, córregos e rios, com consequente perda da função ecológica. A pressão da atividade produtiva é intensa e o cenário poderá resultar em grave escassez hídrica futura.
Referências
Amaral, A L. (2005). A questão regional urbana sob a ótica das desigualdades territoriais. Cáceres, M G, Brasil: Editora Unemat.
Arantes, A., & Bampi, A. C. (2017) Normatização, regulação e alienação do território amazônico na Produção de energia elétrica: o caso da UHE Colíder. In: Souza M. B. de; Silveira R. L. L. (Org.) Norma e território: contribuições multidisciplinares (Livro Eletrônico). Florianópolis: Edunisc.
Becker, B. K. (1993). A Amazônia pós Eco-92. In: Bursztyn, M. (Org.). Para pensar o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Brasiliense.
Becker, B. K. (2001). Revisão das políticas de ocupação da Amazônia: é possível identificar modelos para projetar cenários: Parcerias estratégicas, 6(12), 135-159.
Brasil (1996). Lei complementar nº 87, de 13 de setembro de 1996. Dispõe sobre o imposto dos Estados e do Distrito Federal sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, e dá outras providências. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp87.htm.
Bublitz, J. (2008). Forasteiros na floresta subtropical: notas para uma história ambiental da colonização alemã no Rio Grande do Sul. Ambiente & Sociedade, 11, 323-340. https://www.scielo.br/j/asoc/a/g5Fg8CCPMxqTtfL9cT6jhKF/abstract/?lang=pt.
Castrillón Fernández, A. J. (2007). Do cerrado à Amazônia: as estruturas sociais da economia da soja em Mato Grosso. Tese (Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Cordova, V. S., & Victal, J. (2017). O território paulistânico: um olhar existencial para além dos mapas antigos. Labor E Engenho, 11(3), 263–279.
Fearnside, P. M. (2020). O desmatamento da Amazônia Brasileira: 11–Pecuária. https://amazoniareal.com.br/o-desmatamento-da-amazonia-brasileira-11-pecuaria/.
Fournier, P. (2016). Les leçons d’une hydro-histoire: quelques pistes de réflexion. Siècles. Cahiers du Centre d’histoire «Espaces et Cultures», (42). https://journals.openedition.org/siecles/2970#quotation.
Franco da Silva, C. A. & Bampi, A.C. (2019). Regional Dynamics of the Brazilian Amazon: between Modernization and Land Conflicts. Cuadernos de Geografía: Revista Colombiana de Geografía, 28(2), 340-356. https://doi.org/10.15446/rcdg.v28n2.72872
Franco da Silva, C. A. (2019). A modernização distópica do território brasileiro. Rio de Janeiro: Consequência.
Haesbaert, R. (1996). Região e rede regional “gaúcha”: entre redes e territórios. Boletim Gaúcho de Geografia, v. 21. n. 1,p.15-27.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. SIDRA (2021). Pesquisa da Pecuária Municipal - PPM. https://sidra.ibge.gov.br/tabela/3939.
Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária - IMEA (2010). Macrorregiões do IMEA.www.imea.com.br/imea-site/metodologia.
Kohler, M. R., Bampi, A. C., Silva, C. A. F., Arantes, A., & Gaspar, W. J. (2021). Deforestation in the Brazilian Amazon from the perspective of cattle ranching: the degradation of water resources in the context of the northern region of Mato Grosso. Research, Society and Development, 10(11). https://doi.org/10.33448/rsd-v10i11.19252
Margulis, S. (2003) Causas do desmatamento da Amazônia brasileira. 1. ed. Brasília: Banco Mundial.
Miranda, M. (1990). O papel da colonização dirigida na expansão da fronteira na Amazônia. In: Becker, B. K; Miranda, M.; Machado, L.O. Fronteira Amazônica: questões sobre a gestão do território. Rio de Janeiro: UFRJ, p.47-62.
Nascimento C. P. et al (2015) A pecuária como atividade primaz na Amazônia: Uma discussão acerca dos seus aspectos ambientais, das populações humanas envolvidas e do papel das instituições na dinâmica desta atividade. Revista de Estudos Sociais – UFMT 17(33), 208-227. https://doi.org/10.19093/res.v17i33.2238
Oliveira, A. U. D. (2005). BR-163 Cuiabá-Santarém: geopolítica, grilagem, violência e mundialização. Amazônia revelada: os descaminhos ao longo da BR-163. Brasília: CNPq, 67-183. http://centrodememoria.cnpq.br/amazonia%20revelada.pdf.
Oliveira, A. U. D. (2005). Barbárie e modernidade: as transformações no campo e o agronegócio no Brasil. Terra Livre, 2(21), 113-156. www.agb.org.br/publicacoes/index.php/terralivre/article/view/473.
Orlandi. M.; Bidarra, Z. S.; Chiovetto, A. T. (2012). A influência das políticas públicas no processo de ocupação e urbanização da mesorregião norte mato-grossense. Ciências Sociais e Aplicadas, Ponta Grossa, v. 20, n. 2, p. 179-192, jul./dez.
Prado Jr, C. (1961). Formação do Brasil contemporâneo Colônia. São Paulo, Editora Brasiliense (6ª. ed.).
Projeto Map Biomas – Coleção 5.0. (2020). Série Anual de Mapas de Cobertura e Uso de Solo do Brasil. http://mapbiomas.org
Silva, J. G. (1994). O desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro e a reforma agrária. In: Stédile, J.P. (org.). A questão agrária hoje. Porto Alegre: Ed. Universidade UFRGS.
Silva, C. A. F. da & Bampi A. C. (2019). Dinámica regional de la Amazonia brasileña: entre la modernización y conflitos agrários. Cuadernos de Geografía: Revista Colombiana de Geografía, 28(2), 340-356. https://doi.org/10.15446/rcdg.v28n2.72872
Telles, D. D. & Góis, J. S. (2013). Ciclo ambiental da água: da chuva à gestão. São Paulo, Blucher.
Tomasoni, M. A., Siqueira Pinto, J. E., & Silva, H. P. (2010). A questão dos recursos hídricos e as perspectivas. GeoTextos, 5(2). https://doi.org/10.9771/1984-5537geo.v5i2.3789
Tundisi, J. G. (2008). Recursos hídricos no futuro: problemas e soluções. Dossiê Água. Est. Av. 22(63). https://doi.org/10.1590/S0103-40142008000200002
Tvedt, T. (2010). “Water Systems”, Environmental History and the Deconstruction of Nature. Environment and History. White Horse Press, 16(2), 143–166. http://www.jstor.org/stable/20723773.
Zaiatz, A. P. S. R., Zolin, C. A., Vendrusculo, L. G., Lopes, T. R., & Paulino, J. (2018). Agricultural land use and cover change in the Cerrado/Amazon ecotone: A case study of the upper Teles Pires River basin. Acta Amazonica, 48, 168-177. https://www.scielo.br/j/aa/a/zwBSKZFjBNy8WXkv6vqrXsR/abstract/?lang=en.
Worster, D. (2003). Transformações da terra: para uma perspectiva agroecológica na história. Ambiente & sociedade, 5, 23-44. https://www.scielo.br/j/asoc/a/ygCBYvtmDL4vF59M98DhfnN/?format=html&lang=pt>.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Aumeri Carlos Bampi; Carlos Alberto Franco da Silva; Almir Arantes; Marisa Regina Kohler; Waldir José Gaspar; Natalício Pereira Lacerda; Rodrigo Bruno Zanin; Germano Guarim Neto; José Aldair Pinheiro
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
1) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
2) Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.