Desigualdades raciais nas tendências da maternidade adolescente e no acesso ao pré-natal no Brasil, 2008-2019
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v12i1.39404Palavras-chave:
Gravidez na Adolescência; Saúde Reprodutiva; Direitos Sexuais; Direitos Reprodutivos; Desigualdades em Saúde; Racismo.Resumo
A gravidez e a maternidade na adolescência são questões relacionadas aos direitos humanos, aos direitos sexuais e reprodutivos e à saúde pública. Identificar iniquidades raciais nas tendências temporais da maternidade na adolescência e acesso ao pré-natal no Brasil. Foi realizada uma análise descritiva da proporção de mães adolescentes de nascidos vivos, características sociodemográficas e número de consultas pré-natais segundo raça/cor e faixa etária (10-14 e 15-19 anos) com dados do Sistema de Informação de Nascidos Vivos. As tendências ao longo do tempo foram avaliadas usando modelos de regressão binomial negativa. No período da análise, foram identificadas 6.118.205 mães adolescentes, sendo a maior proporção de mães entre 15-19 anos de idade (95,14%). A análise de tendência mostrou um padrão geral decrescente de maternidade entre as adolescentes de 10 a 14 anos (RR=0,97; p<0,0001) e uma tendência estacionária entre as que tem idade entre 15 e 19 anos (RR=0,99; p=0,611). Iniquidades raciais foram encontradas, com tendência decrescente observada apenas entre adolescentes Brancas (faixas 10-14 e 15-19) e Pardas (10-14 anos). Iniquidades raciais também foram encontradas no número de consultas pré-natais e nas características sociodemográficas. Indígenas (20,8%), Pardas (40,4%) e Pretas (41,9%) são as que menos referem a realização de 7 ou mais consultas de pré-natal em relação às Brancas (56,6%). As iniquidades raciais atravessam as trajetórias sexuais e reprodutivas de meninas e adolescentes levando a maternidades não pretendidas. As políticas de saúde devem considerar o racismo e suas manifestações.
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