Relação entre Violência Obstétrica e Depressão Puerperal: Uma revisão integrativa de literatura
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v14i1.48030Palavras-chave:
Humanização da Assistência, Parto, Período Pós-Parto, Saúde da Mulher, Violência contra a Mulher.Resumo
Introdução: A violência obstétrica foi reconhecida como problema de saúde pública. As consequências desse cenário desumanizador frequentemente incluem a depressão pós-parto (DPP), visto que o caráter multifatorial desse transtorno possivelmente torna o desrespeito e o abuso durante o parto alguns de seus fatores desencadeantes. No entanto, a relação entre esses fenômenos precisa ser melhor esclarecida. Assim, objetiva-se sintetizar e analisar criticamente as evidências disponíveis sobre a relação entre violência obstétrica e a ocorrência de depressão puerperal. Metodologia: Procede-se a uma revisão integrativa de literatura, orientada pelas recomendações de Mendes (2008). Realizou-se o levantamento bibliográfico na plataforma BVS e nas bases de dados PUBMED, SciELO, LILACS e SCOPUS, utilizando descritores extraídos da plataforma DECS/MESH. Resultados: Doze artigos foram selecionados para análise completa. Dez estudos evidenciaram uma ligação entre violência obstétrica e depressão pós-parto. Discussão: A gravidez e o puerpério são períodos de risco aumentado para distúrbios psiquiátricos e, somado a violência e maus-tratos, a incidência de depressão pós-parto (DPP) aumenta. A DPP também pode afetar a criança, prejudicando o desenvolvimento e o vínculo com a mãe. Entretanto, é comum que o profissional não se identifique como o agressor, sendo necessário uma reformulação da assistência obstétrica para reduzir os impactos negativos e promover um parto humanizado. Conclusão: A violência obstétrica pode ser um dos principais fatores agravantes para a ocorrência de depressão pós-parto (DPP).
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