Riscos ocupacionais em laboratórios de necropsia: Uma análise integrativa das medidas de biossegurança
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v14i11.50191Palavras-chave:
Biossegurança, Necrópsia, Riscos Ocupacionais, Serviço de Patologia Clínica, Medidas de Segurança.Resumo
O presente estudo objetivou analisar as medidas de biossegurança implementadas em laboratórios de autópsia, com ênfase na identificação dos principais riscos ocupacionais e na avaliação das estratégias preventivas adotadas para reduzir a exposição dos profissionais a agentes infecciosos e materiais biológicos potencialmente perigosos. Realizou-se uma revisão integrativa da literatura com busca na base Medline/PubMed. Foram selecionados oito artigos que abordavam diretamente medidas de biossegurança em necrópsias. A análise revelou uma diversidade de riscos, com destaque para a geração de aerossóis, acidentes perfurocortantes e a exposição a agentes químicos e patógenos, incluindo SARS-CoV-2. A análise dos estudos evidenciou que os riscos biológicos, particularmente a inalação de aerossóis gerados por serras oscilatórias e a aspiração de líquidos, são predominantes. A inadequação da infraestrutura, como a falta de salas com pressão negativa (nível de Biossegurança 3 - NBS-3), e falhas no uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e no gerenciamento de resíduos amplificam esses perigos. Estratégias eficazes incluem o projeto adequado das instalações, a adoção de barreiras físicas adicionais (como a “caixa de craniotomia”), a ventilação controlada e a educação permanente da equipe. A adoção rigorosa de medidas de biossegurança, alinhadas a diretrizes internacionais e suportadas por infraestrutura adequada e treinamento contínuo, é imperativa para mitigar os riscos ocupacionais em laboratórios de necrópsia. Tais ações são essenciais para garantir a segurança dos profissionais, a qualidade dos procedimentos forenses e a proteção da saúde pública.
Referências
Abdullah, N. K. et al. (2024). The need for mandatory autopsy teaching in forensic medicine for medical students. Autopsy and Case Reports, 14, e2024509.
Alexandre, N. M. C., & Rogante, M. M. (2000). Movimentação e transferência de pacientes: aspectos posturais e ergonômicos. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 34(2), 165-174.
Basso, C. et al. (2020). Feasibility of postmortem examination in the era of COVID-19 pandemic: the experience of a Northeast Italy University Hospital. Virchows Archiv, 477(3), 341–347. https://doi.org/10.1007/s00428-020-02861-1
Bassat, Q. et al. (2021). Minimally Invasive Tissue Sampling as an Alternative to Complete Diagnostic Autopsies in the Context of Epidemic Outbreaks and Pandemics: The Example of Coronavirus Disease 2019 (COVID-19). Clinical Infectious Diseases, 73(Suppl 5), S472–S479. https://doi.org/10.1093/cid/ciab760
Beeckman, D. S., & Rüdelsheim, P. (2020). Biosafety and biosecurity in containment: A regulatory overview. Frontiers in Bioengineering and Biotechnology, 8, 650.
Bertelli, C. (2021). Occupational accidents involving biological material: demographic and occupational profile of affected workers. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, 18(4), 415–424.
Brasil, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). (2005). Biossegurança. Informes Técnicos Institucionais. Revista de Saúde Pública, 39(6), 989-991.
Cardoso, T. A. O. (2012). Biossegurança e desastres: conceitos, prevenção, saúde pública e manejo de cadáveres. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 22(4), 1523-1542.
Cardoso, T. A. O. (2020). Biosafety in autopsy room: a systematic review. Revista de Salud Pública, 21(6), 634-642.
Centers for Disease Control and Prevention (CDC). (2020). Biosafety in Microbiological and Biomedical Laboratories (6th ed.). https://www.cdc.gov/labs/BMBL.html
Conceição, P. (2020). Biossegurança nos necrotérios e no serviço de autópsia. REMS, 12, 57.
Connell, N. (2011). Biological agents in the laboratory: The regulatory issues. Public Interest Report, Fall 2011, 1-6.
Costa, R. A. (2004). Educação em biossegurança: capacitação de profissionais da saúde. Revista Brasileira de Educação Médica, 28(2), 123-130.
Daitx, C. (2020). A necrópsia nos casos de morte natural e morte violenta. Portal Afya.
Duarte-Neto, A. N. (2021). Ultrasound-guided minimally invasive tissue sampling: a minimally invasive autopsy strategy during the COVID-19 pandemic in Brazil, 2020. Clinical Infectious Diseases, 73(Suppl 5), S442–S453.
Faria, N. M. X. (2011). Exposição ocupacional a agentes químicos: avaliação e vigilância em saúde. Cadernos de Saúde Pública, 27(7), 1235-1245.
Franklin, S. L. et al. (2009). Assessment of environmental conditions in the pathological anatomy laboratory of a university hospital located in Rio de Janeiro. Revista Universitária do Rio de Janeiro, 12(3), 45-52.
Fusco, F. M. et al. (2016). A 2009 cross-sectional survey of procedures for post-mortem management of highly infectious disease patients in 48 isolation facilities in 16 countries: data from EuroNHID. Infection, 44(1), 57–64. https://doi.org/10.1007/s15010-015-0831-5
Gao, W. et al. (2025). Biosafety concept: Origins, Evolution, and Prospects. Biosafety and Health, 7(4), 209-217. https://doi.org/10.1016/j.bsheal.2025.07.003
Gomes, S. C. S., & Caldas, A. J. M. (2019). Incidência de acidentes de trabalho com exposição a material biológico em profissionais de saúde no Brasil, 2010–2016. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, 17(2), 188–200.
Gonçalves, K. O. S. et al. (2019). Riscos e circunstâncias de acidentes com material biológico com o trabalhador de enfermagem. Revista Enfermagem Atual In Derme, 87(25). https://doi.org/10.31011/reaid-2019-v87-003
Guerra, S. S. (2024). Proliferação de microrganismos em superfícies ambientais: Avaliação dos riscos à saúde pública e medidas preventivas. Brazilian Journal of Biological Sciences, 9(3), 51.
Hanley, B. et al. (2020). Autopsy in suspected COVID-19 cases. Journal of Clinical Pathology, 73(5), 239–242. https://doi.org/10.1136/jclinpath-2020-206522
Hasmi, A. H. et al. (2020). The craniotomy box: an innovative method of containing hazardous aerosols generated during skull saw use in autopsy on a COVID-19 body. Forensic Science, Medicine, and Pathology, 16(3), 477–480. https://doi.org/10.1007/s12024-020-00270-z
Hinrichsen, S. L. (2004). Biossegurança: uma revisão. Arquivos do Instituto Biológico, 77(3), 555–562. https://doi.org/10.1590/1808-1657v77p5552010
Kim, K. H., Kabir, E., & Jahan, S. A. (2018). Airborne bioaerosols and their impact on human health. Journal of Environmental Sciences, 67, 23–35. https://doi.org/10.1016/j.jes.2017.08.027
Li, L. et al. (2005). Biosafety level 3 laboratory for autopsies of patients with severe acute respiratory syndrome: principles, practices, and prospects. Clinical Infectious Diseases, 41(6), 815–821. https://doi.org/10.1086/432720
Loibner, M. et al. (2021). Biosafety Requirements for Autopsies of Patients with COVID-19: Example of a BSL-3 Autopsy Facility Designed for Highly Pathogenic Agents. Pathobiology, 88(1), 37–45. https://doi.org/10.1159/000513438
Morales, L. M. P. et al. (2024). O impacto da pandemia de Covid-19 nos acidentes de trabalho com exposição a material biológico no Brasil: uma análise de séries temporais interrompidas. Revista Brasileira de Epidemiologia, 27, e240067.
Moreira, D. R. (2009). Estudo sobre a contribuição da autópsia como método diagnóstico. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, 45(3), 239-245.
Nogueira, R. A. et al. (2023). The impact of the COVID-19 pandemic on hospital biosafety practices. Revista de Medicina, 102(3), e206934.
Nolte, K. B. et al. (2021). Projeto e construção de um laboratório de autópsia de nível 3 de biossegurança. Archives of Pathology & Laboratory Medicine, 145(4), 407–414. https://doi.org/10.5858/arpa.2020-0644-SA
Nolte, K. B., Taylor, D. G., & Richmond, J. Y. (2002). Biosafety considerations for autopsy. The American Journal of Forensic Medicine and Pathology, 23(2), 107–122. https://doi.org/10.1097/00000433-200206000-00001
Oliveira, D. B. D. et al. (2023). Toxicologia forense: o estudo dos agentes tóxicos nas ciências forenses. Brazilian Journal of Development, 9(1), 1475–1493.
Oliveira, F. A. et al. (2024). Análise dos acidentes de trabalho com exposição a material biológico entre profissionais de enfermagem no Brasil. Observatório de la Economía Latinoamericana, 22(10), e7430.
Pasa, T. S. et al. (2015). Riscos ergonômicos para trabalhadores de enfermagem ao movimentar e remover pacientes. Revista de Enfermagem da UFSM, 5(1), 92–102. https://doi.org/10.5902/2179769215016
Pereira, A. S. et al. (2018). Metodologia da pesquisa científica. [free ebook]. Santa Maria: Editora da UFSM.
Pluim, J. M. E. et al. (2018). Aerosol production during autopsies: The risk of sawing in bone. Forensic Science International, 289, 260–267. https://doi.org/10.1016/j.forsciint.2018.05.046
Portela, M. C. (2020). Os profissionais da saúde e a pandemia de COVID-19. In M. C. Portela (Org.), Covid-19: desafios para a organização e repercussões nos sistemas e serviços de saúde (pp. 433-452). Observatório Covid-19 Fiocruz.
Pritsch, I. (2020). Toxicologia forense: o estudo dos agentes tóxicos nas ciências forenses. Revista de Criminalística e Medicina Legal, 5(1), 19-26.
Renault, V. et al. (2021). Biosecurity Concept: Origins, Evolution and Perspectives. Animals, 12(1), 63. https://doi.org/10.3390/ani12010063
Santos, H. P. A. et al. (2019). A importância da biossegurança no laboratório clínico de biomedicina. Revista Saúde em Foco, 11, 210-225.
Silva, F. L. L., Zambroni-de-Souza, P. C., & Araújo, A. J. S. (2014). Análise das condições e da organização do trabalho dos necrotomistas. Psicologia: Estudo, 19(1), 81–91.
Silva Junior, F. R. et al. (2015). Acidente de trabalho com material perfurocortante envolvendo estudantes e profissionais de saúde em hospital de referência. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, 13(2), 69–75.
Snyder, H. (2019). Literature review as a research methodology: An overview and guidelines. Journal of Business Research, 104, 333–339. https://doi.org/10.1016/J.JBUSRES.2019.07.039.
Souza, R. Z. et al. (2019). Análise dos acidentes de trabalho com exposição a material biológico notificados por profissionais da saúde. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, 17(2), 201–208.
Teixeira, C. F. et al. (2020). Acidentes de trabalho com material biológico e medidas protetivas adotadas na COVID-19. Ciência & Saúde Coletiva, 25, 3465–3474.
Tomão, P. et al. (2021). Mapping Biological Risks Related to Necropsy Activities: old concerns and novel issues for the safety of health professionals. International Journal of Environmental Research and Public Health, 18(22), 01-15.
Uehara, S. C. S., Veiga, T. B., & Takayanagui, A. M. M. (2019). Gerenciamento de resíduos de serviços de saúde em hospitais de Ribeirão Preto (SP), Brasil. Engenharia Sanitária e Ambiental, 24(1), 191-202.
Whittemore, R., & Knafl, K. (2005). The integrative review: updated methodology. Journal of Advanced Nursing, 52(5), 546–553.
World Health Organization (WHO). (2020). Laboratory Biosafety Manual (4th ed.). https://www.who.int/publications/i/item/9789240011311
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Wadhyane Sampaio Ferreira Silva, Vital Vieira de Fontes Filho, Adijacilda de Luna Rodrigues, Jorge Belém Oliveira Júnior

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
1) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
2) Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.
