Distribuição espacial das picadas de serpente no Estado do Ceará, Brasil (2008 - 2018)
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i10.19022Palavras-chave:
Bothrops. Envenenamento. Nordeste.; Bothrops; Envenenamento; Nordeste.Resumo
Picadas de serpentes representam um importante, embora negligenciado, problema de saúde pública, principalmente no Nordeste do Brasil. Ainda é grande o número de casos subnotificados, a coleta de dados epidemiológicos é deficiente, e o conhecimento ecológico e epidemiológico desse envenenamento permanece limitado, devido à falta de atualização de informações regionais e locais. Este estudo descreve o perfil epidemiológico das picadas de serpentes registradas pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação de 2008 a 2018 no estado do Ceará. Os dados foram organizados segundo os municípios das macrorregiões de saúde, considerando as variáveis: sexo, serpente, gravidade e óbitos. Foram encontrados 8.233 casos, com incidência anual de 8,6/100.000 habitantes e maior prevalência de acidentes botrópicos (64%), em homens (87,4%) na região de Sobral (25,5%). Porém, a maior taxa de incidência foi encontrada no Sertão Central (299,7/100.000). A maioria dos casos foi considerada leve (62%), mas a taxa de mortalidade foi de 0,07/100.000 e taxa de letalidade de 0,8%. Entre os municípios mais atingidos, cidades como Tauá (1,3%), Sobral (8,1%) e Fortaleza (8,5%) são preocupantes, visto que as taxas de letalidade ficaram acima da média nacional (1%). As picadas de serpentes no Ceará seguem um padrão semelhante ao de outros estados do Nordeste, com alta frequência de incidentes onde a serpente causadora não é identificada (16%). Considerando a gravidade das picadas de serpentes, estudos que avaliem a influência antrópica e ambiental na distribuição dos casos podem auxiliar na definição de áreas de risco prioritárias, para melhorar a vigilância em saúde e o atendimento ao paciente.
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