Por uma epistemologia da criminalística: Desconstruindo alguns mitos fundantes
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v13i6.46168Palavras-chave:
Criminalística; Ciência forense; Ciências forenses; Epistemologia; Declaração de Sydney.Resumo
A definição da natureza da criminalística e da ciência forense, bem como seus princípios e postulados tem sido objeto de intenso debate na literatura internacional. O presente trabalho pretende analisar alguns dos conceitos amplamente aceitos pela literatura nacional no que concerne à definição de princípios básicos da criminalística e/ou ciência forense. Na primeira parte do artigo foi feito um levantamento sobre os princípios da ciência forense e/ou criminalística encontrados na literatura nacional e internacional. Na segunda parte foi realizada a reconstrução histórica da consolidação dos princípios da criminalística adotados no Brasil. Na terceira parte foi realizada uma análise crítica dos princípios consolidados na comunidade de perícia nacional, contrapondo-a às discussões internacionais sobre a natureza da ciência forense. Em linhas gerais, a comunidade internacional tende a definir a ciência forense como uma ciência que compartilha muito dos procedimentos rigorosos provenientes das ciências naturais, mas que também apresenta seus próprios postulados e metodologias específicas. Dentre elas, a reconstrução história do evento criminal, tendo como base a análise rigorosa dos vestígios. Já os princípios aceitos atualmente pela comunidade pericial do Brasil apresentam claramente algumas incongruências conceituais importantes, fruto de um conhecimento tradicional e empírico, passado de geração em geração, conforme Cunha (1987) reconhece em sua obra. Certas proposições e ideias consolidadas na comunidade pericial brasileira parecem ir contra as conceituações clássicas sobre a ciência. Rever esses conceitos é essencial, pois ideias estão associadas a determinadas práticas e visões de mundo.
Referências
Albarracin, R. (1971). Manual de Criminalística. Editorial Policial.
Aragão, R. F. (2006). Vestígio Material e Imprecisão – Criminalística Estática, Dinâmica e Pós-moderna. IV Seminário Brasileiro de Balística Forense e Perícias de Crimes Contra a Vida, Recife.
Aragão, R. F. (2016). O Código de Ética e a Doutrina da Perícia Criminal Brasileira. In: Tocchetto, Domingos & Espindula, A. (org), Criminalística, Procedimentos e Metodologias. (3a ed.). Ed. Millennium.
Cavalcanti, A. (1987). Criminalística Básica. (2a ed.). Ed. Litoral, 224pg.
Ceccaldi, P. F. (1971). La Criminología. In: Colección ¿qué sé? Nº 49. Barcelona, Espanha: Editora Oikos-tau, 126p.
Cleland, C. (2002). Methodological and Epistemic Differences between Historical Science and Experimental Science. Philos. Sci., 69(3), 474-496.
Cordioli, C. (2003). A Criminalística brasileira: sua doutrina. Anais do XVII Congresso Nacional de Criminalística, Londrina: Área Temática Criminalística, 1-27.
Crispino, F.; Roux, C.; Delémont, O. & Ribaux, O. (2019). Is the (traditional) Galilean science paradigm well suited to forensic science? WIREs Forensic Sci., 1, e1349.
Crispino, F.; Weyermann, C.; Delémont, O.; Roux, C. & Ribaux, O. (2022). Towards another paradigm for forensic science? WIREs Forensic Sci., 4, e1441.
Cunha, B. P. (1987). Doutrina da Criminalística Brasileira. Ed. Ateniense.
De Forest, P. R. (1999). Recapturing the essence of criminalistics. Sci. Justice, 39(3), 196-208.
De Forest, P. R.; Gaensslen, R. & Lee, H.C. (1983). Forensic Science: An introduction to Criminalistics. McGraw Hill.
Dror, I. & Hampikian, G. (2011). Subjectivity and bias in forensic DNA mixture interpretation. Sci. Justice. 51(4), 204-208.
Espindula, A. (2014). Perícia Criminal e Cívil: uma visão geral para peritos e usuários de perícia. (4a ed.). Editora Millennium, 480p.
Fachone, P. & Velho, L. (2007). Ciência Forense: Interseção Justiça, Ciência e Tecnologia. Revista Tecnologia e Sociedade., 3(4), 139-161.
Garrido, R. G. & Giovanelli, A. (2015). Ciência Forense: Uma Introdução à Criminalística. (2a ed.). Projeto Cultural/FAPERJ, 214p.
Gil, A. C. (2017). Como elaborar projetos de pesquisa. (6a ed.). Ed. Atlas AS.
Ginzburg, C. (1984). Morelli, Freud, and Sherlock Holmes: Clues and scientific method. In U. Eco & T. Sebeok (Eds.), The sign of three: Dupin, Holmes, Peirce (pp. 81–118), Bloomington and Indianapolis: Indiana University Press.
Giovanelli, A. (2022). Declaração de Sydney e os novos rumos da Criminalística: repensando práticas e identidades. Evidência, o Jornal da Perícia, 23(4), 5-14.
Giovanelli, A. (2023A). The forensic´s scientist craft: towards an integrative theory. Part 1: microapproach. Aust. J. Forensic Sci., 1-15. Doi: 10.1080/00450618.2023.2231991.
Giovanelli, A. (2023B). The forensic´s scientist craft: towards an integrative theory. Part 2: meso and macroapproach. Aust. J. Forensic Sci., 1-16. Doi: 10.1080/00450618.2023.2283418.
Giovanelli, A. (2023C). A busca pela verdade real e a realidade da busca policial: A perícia do Rio de Janeiro no fogo cruzado. Rev. Estud. Empír. Direito, 10, 1-38.
Giovanelli, A.; Santos, A.; Torres, P.A. & Mayer, R.D. (2022). Coleta de DNA em locais de crime: procedimentos e aplicações. Editora Dialética, 116pg.
González, R. M. (2002). Manual de Introduccion a la Criminalistica. (10a ed.). Editorial Porrúa.
Guzmán, C. A. (2011). Manual de Criminalistica. (2a ed.). Editorial B de F,
Harris, H. A. & Lee, H. C. (2019). Introduction to Forensic Science and Criminalistics. (2ª ed.). Boca CRC Press, Taylor & Francis Group.
Harzing, A. W. & Wal, R. (2008). Google Scholar as a new source for citation analysis. Ethics Sci. Environ. Politics., 8(1), 61-73.
Houck, M. M. & Crispino, F. (2013). Principles of Forensic Science. In: M. M. Houck editor. Encyclopedia of Forensic Sciences. Elsevier, 278-281.
Houck, M. M. & Siegel, J. (2015). Fundamentals of Forensic Science. (3ª ed.). Academic Press.
Houck, M. M. (2010). An Investigation into the Foundational Principles of Forensic Science. [Degree of Doctor of Philosophy]. Australia: Curtin University of Technology.
Inman, K. & Rudin, N. (2002). The origin of evidence. Forensic Sci. Int., 126, 11-16.
Jayaprakash, P. T. (2013). Practical relevance of pattern uniqueness in forensic science. Forensic Sci. Int., 231(1-3), 403.e1-403.e16.
Kirk, P. L. (1963). The ontogeny of Criminalistics. J. Crim. Law Crim., 54(2), 235-238.
Locard, E. (1920). L’Enquete criminelle et les Methodes scientifiques. Paris: Flammarion.
Martin, B. & Linacre, A. (2020). Direct PCR: A review of use and limitations. Sci. Justice. 60(4), 303-310.
Miranda, M. D.; Buzzini, P.; De Forest, P.R. & Willis, S. (2023). J. Forensic Sci., 68(5), 1835-1842.
Nuñez, P. M. (2016). Técnicas interpretativas em la Criminalistica moderna. Revista Skopein, 4(11), 41-47.
Osterburg, J. W. (1968). The Crime Laboratory: Case Studies of Scientific Criminal Investigation. Indiana University Press.
Popper, K. R. (1972). A lógica da pesquisa científica. Cultrix/Edusp.
Porras, L. E.; Segovia, L. H. & Pincay, W. E. (2019). Importancia de la investigación judicial y criminalística en la determinación de la veracidad del delito. Universidad y Sociedad., 11(4), Epub 02.
Porto, G. (1976). Manual de Criminalística. Ed. Resenha Universitária.
Prueger, E. (2010). Criminalística aplicada: investigación metanalítica em homicidios. Neuquén, Argentina.
Rabello, E. (1996). Curso de Criminalística. Ed. Sagra Luzzato.
Ristenbatt, R. R.; Hietpas, J.; De Forest, P. R. & Margot, P. A. (2022). Traceology, criminalistics, and forensic science. J. Forensic Sci., 67(1), 28–32.
Rodrigues, C. H. P.; Amaral, M. E. A.; Mariotto, L. S.; Castro, J. S.; Mascarelli, M. H. & Velho J. A. et al. (2022). Ciência Forense ou Ciências Forenses? Uma análise conceitual. Res. Soc. Dev., 11(12), e177111234215.
Rosa, C .T. A. (2015). Vestígios Psicológicos ou Comportamentais na Cena de Crime: uma Evidência Subutilizada no Arcabouço Pericial Brasileiro. Rev. Bras. Criminalística, 4(3), 15-27.
Roux, C.; Bucht, R.; Crispino, F.; De Forest, P R.; Lennard, C.; Margot, P.; Miranda, M. D.; NicDaeid, N.; Ribaux, O.; Ross, A. & Willis, S. (2022). The Sydney Declaration – Revisiting the essence of forensic science through its fundamental principles. Forensic Sci. Int., 332, 111182.
Roux, C.; Ribaux, O. & Crispino, F. (2018). Forensic science 2020 – the end of the crossroads? Aust. J. Forensic Sci., 50(6), 607-618.
Saferstein, R. (2010). Criminalistics: an introduction to forensic science. (10a ed.). Pearson Prentice Hall,
San Pietro, D.; Kammrath, B. W. & De Forest P R. (2019). Is forensic science in danger of extinction? Sci. Justice., 59(2), 199-202.
Sosa, J. M. (2003). Criminalística Tomo I. Mexico: Editorial Limusa, Noriega Editores.
Strätz, M. (2021). A autoridade científica da prova pericial na persecução penal: o laudo convence porque tem autoridade, ou só tem autoridade porque convence? De Legibus, 2, 153-171.
Stumvoll, V. P. (org). Criminalística. (2019). (7a ed.). Ed. Millennium397p.
Tocchetto, D. & Espindula A. (2016). Criminalística: Procedimentos e Metodologias. (3a ed.). Ed. Millennium523p.
Velho, J. A.; Geiser, G. C. & Espindula, A. (2018). Capítulo I: Introdução às ciências forenses. In: Ciências forenses - uma introdução às principais áreas da criminalística moderna. (3a ed.). Editora Millennium, 528p.
Weyermann, C. & Roux, C. (2021). A different perspective on the forensic science crisis. Forensic Sci Int., 323, 110779.
Weyermann, C.; Willis, S.; Margot, P. & Roux, C. (2023). Towards more relevance in forensic science research and development. Forensic Sci. Int., 348, 111592.
Willis, S. (2023). The profissionalism of forensic science. WIREs Forensic Sci., 5, e1478.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Alexandre Giovanelli

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
1) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
2) Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.