Capitalismo, poluição luminosa e negação do sono: Um debate relevante para o campo da Saúde Coletiva
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i9.18132Palavras-chave:
Cronobiologia; Ritmo Circadiano; Transtorno do sono.Resumo
Objetivo: Este artigo tem a intenção de suscitar a discussão de aspectos biológicos, culturais e socioeconômicos relacionados à poluição luminosa e à negação do sono. Metodologia: Trata-se de um ensaio, no qual é realizada uma aproximação das temáticas com o campo da Saúde Coletiva, considerando a escassez de estudos na literatura sobre essa perspectiva, e o compromisso da área com a discussão dessas configurações produtivas, sociais e culturais que influenciam a saúde e qualidade de vida dos sujeitos. Resultados e Discussão: A flexibilidade e instabilidade do mercado de trabalho, além da grande quantidade de informações e produtos a serem consumidos, tornam o dia insuficiente e a noite passa a ser utilizada para a realização de atividades diversas em detrimento do sono. Destaca-se assim, um caráter compulsório de adesão aos modos de viver influenciados pelo modelo 24/7 e as consequências dessa estrutura para a saúde dos indivíduos e das populações, ao passo em que é apontada a influência do mesmo sistema capitalista para a mercantilização da saúde, que retroalimenta o sistema de exploração. Conclusão: Os efeitos do modo de produção vigente e os impactos no bem-estar dos indivíduos e populações tornam essa uma discussão fulcral para o campo da Saúde Coletiva, que pode contribuir para compreensão de uma qualidade de vida além das perspectivas produtivistas/consumistas.
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