Aspectos da territorialização do cuidado em um CAPSij: estudo seccional
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i10.18848Palavras-chave:
Território; Saúde mental; População negra; Direitos.Resumo
Este estudo tem como objetivo integrar análises geográficas, sociais e de saúde considerando as variáveis raça/cor, para compreensão da complexidade da territorialização do cuidado em saúde mental. Para isto se propõe a responder à seguinte questão: quais as características sociodemográficas do território ocupado pelas crianças, mulheres e adolescentes na área de abrangência do CAPSij Brasilândia? Metodologia: Estudo seccional que permite análise e avaliação de riscos à saúde coletiva a que uma população está exposta, particularmente socioeconômicos e ambientais. O georreferenciamento descreve e permite a visualização da distribuição espacial, marcando determinantes sociais e fatores etiológicos que possam formular hipóteses e apontar associações entre os fenômenos. Com a tecnologia SIG buscou-se delimitar a área de abrangência do serviço, bem como, classificar aquilo que denominamos por complexidades para territorialização do cuidado em saúde mental. Resultados: A distribuição espacial das famílias (mulheres, crianças e adolescentes negros), acompanhadas pelo CAPSij mostra a segregação territorial vivenciada pela população pobre e negra. Os territórios ocupados pela maioria da população negra são retratos do racismo que estrutura a trama social brasileira. Conclusão: os territórios são produtos das relações sociais, podendo conferir vantagens e desvantagens ligadas a localização, infraestrutura, mobilidade, educação, trabalho, saúde, cultura, etc. Essa realidade configura os processos de saúde mental da população negra. Este estudo sobre a variação espacial no recorte raça/cor em serviços públicos de saúde possibilita visibilizar como as desigualdades raciais impactam no acesso ao direito à saúde, e apontar intervenções na perspectiva dos direitos humanos.
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