Partos domiciliares planejados na região de Campinas de 2013 a 2017
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i12.20358Palavras-chave:
Parto domiciliar; Humanização de assistência ao parto; Sistemas de informação em saúde; Bioengenharia.Resumo
Nas últimas décadas tem-se observado um número crescente de nascimentos que são assistidos por profissionais de saúde habilitados e que são planejados antecipadamente para acontecerem em domicílio. Estes têm sido alvo de discussões na mídia, nas redes sociais, entre os conselhos profissionais de saúde e entre os mais diversos setores da sociedade. Neste estudo retrospectivo quantitativo e descritivo, temos por objetivo analisar e descrever os resultados dos partos domiciliares planejados atendidos por uma equipe de enfermeiras obstetras da cidade de Campinas, Brasil no período de 2013 a 2017. Os prontuários analisados eram de mulheres de risco obstétrico habitual, que tiveram parto domiciliar planejado atendido por uma equipe de enfermeiras obstétricas (n=160). Os dados foram obtidos por análise dos prontuários das parturientes e as variáveis analisadas foram os dados sóciodemográficos, o perfil obstétrico, os resultados obstétricos e neonatais. Os resultados mostraram que 68,75% dos partos tiveram duração de até 8 horas, 53,44% das parturientes não tiveram lacerações de períneo durante o período expulsivo, a taxa de transferência materna pós-parto foi de 2,52% e apenas 18,81% das parturientes necessitaram de intervenção durante o processo do parto. Em relação aos neonatais, 97,41% tiveram Apgar de 1º minuto acima de 8 e 100% tiveram Apgar de 5º minuto acima de 8. Verificamos que os resultados são compatíveis com estudos internacionais que consideram o parto domiciliar planejado tão seguro quanto o hospitalar, além de comprovar a utilização dos preceitos da humanização ao parto, que respeita as escolhas da mulher durante o processo fisiológico de parir. Pela análise dos resultados e comparação com dados da literatura, podemos concluir que o parto domiciliar planejado com mulheres de risco obstétrico habitual não oferece riscos adicionais ao parto tradicional em hospital, tanto para a parturiente quanto para o bebê.
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