Ideologia de gênero, religião e a política dos corpos: A disputa contemporânea pelo controle dos sentidos culturais
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i16.23590Palavras-chave:
Sexualidade; Narrativas; Direitos sexuais e reprodutivos; Ideologia de gênero.Resumo
O tema subjacente a este artigo trata da disputa contemporânea por significados culturais, ou o que outros chamam de guerra cultural, sobre os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e as sexualidades dissidentes LGBTQIA+ a partir do debate em torno ao tema de gênero e/ou ideologia de gênero, assim nomeado por grupos religiosos conservadores. O artigo parte das análises de documentos papais e do episcopado brasileiro, das conferências internacionais da ONU sobre mulheres e de tensões recentes sobre o assunto na sociedade brasileira. Os resultados demonstram que esse crescente confronto em torno da escolha da questão que envolve os direitos sobre os corpos de mulheres e de dissidências sexuais ocorre dentro do contexto histórico-estrutural de transição de épocas. A mudança da modernidade industrial para os tempos pós-industriais questionou aspectos elementares da modernidade como: a definição de pessoalidade; a noção de cidadania; os limites entre o público e o privado; a relação entre igreja e estado e a natureza do projeto nacional. Desse modo, o artigo identifica a complexidade do tema a partir da análise da posição da hierarquia católica e contextualiza o momento histórico e estrutural em que a disputa se intensifica, sobretudo no caso brasileiro.
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