Análise do ambiente educacional de uma escola médica brasileira à luz das demandas do ensino remoto
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i17.24434Palavras-chave:
Educação de Graduação em Medicina; Ensino Online; Avaliação Curricular das Escolas Médicas; COVID-19; Estudantes.Resumo
A necessidade de distanciamento social provocou impactos na formação médica, que já sofria processo de mudanças. Com a adoção do ensino remoto, ocasionada pela pandemia da Covid-19, as escolas médicas revisaram práticas educativas e a relação professor-aluno em novos cenários. Nosso objetivo é analisar o ambiente educacional de um curso de graduação de medicina contextualizando-o à nova realidade, identificando aspectos do curso que devem ser revistos para favorecer as transformações necessárias. Aplicamos questionários sociodemográficos e Dundee Ready Education Environment Measure (DREEM) a alunos do primeiro, terceiro e sexto anos do curso de medicina de uma universidade pública brasileira entre agosto e novembro de 2019. Os alunos avaliaram negativamente o ambiente educacional, sendo aspectos concernentes à motivação, uso inadequado do tempo, incentivo à educação permanente percebidos como pouco estimulados e que precisam ser melhorados, objetivos pedagógicos pouco esclarecidos e professores autoritários. Na análise dos dados destacamos as percepções dos alunos sobre motivação e estímulo para aprender; relação professor-aluno; autonomia e estímulo à educação continuada; avaliação, e prática de feedback. Os resultados indicam que a adoção de metodologias de ensino centradas no professor não favorece a participação ativa do aluno e não o encoraja à construção do conhecimento. A modalidade remota de ensino exige ressignificar práticas educativas e lugares ocupados por professores e alunos no processo de ensino-aprendizagem. Atividades de aprimoramento docente, revisão dos métodos de ensino e de avaliação, e maior participação de alunos e professores nos processos de mudança são necessárias.
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