Estado Nutricional infantil – os impactos da pandemia e suas perspectivas para a prevenção

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33448/rsd-v11i4.27129

Palavras-chave:

Estado nutricional; Inquérito Epidemiológico; Brasil.

Resumo

O Brasil vive atualmente em um novo cenário de sérios problemas nutricionais na infância. Além da desnutrição em diversas regiões do país, é levantado mais um distúrbio nutricional: o peso excessivo. Além desse contexto, surge ainda, no ano de 2020 a COVID-19 tornando esse cenário ainda mais problemático. Desse modo, este trabalho teve por objetivo avaliar os efeitos da pandemia na saúde nutricional de crianças de 0 a 10 anos, em relação ao peso elevado das mesmas, no território nacional. Foi desenvolvido um transversal, retrospectivo e com abordagem quantitativa, os dados para pesquisa foram retirados de sites oficiais do governo à saber: SISVAN - Web (Vigilância Alimentar e Nutricional), DATASUS e e-SUS Web, no qual foram analisados dados sociodemográficos do Brasil e nas suas cinco regiões sócio-políticas. As variáveis analisadas foram: gênero, faixa etária e zona de ocorrência. O perfil evidenciou não haver diferenças estatisticamente significativas na prevalência de crianças com peso elevado no Brasil, independente da faixa etária, no período compreendido entre os anos 2017 a 2021. No entanto, houve uma clara tendência, apesar de não significativa, de aumento da prevalência de crianças com peso elevado, no ano de 2021, em detrimento as faixas etárias de 0 a 6 meses e de 6 meses a dois anos, que apresentaram uma tendência estacionária. Em relação as regiões sócio-políticas foi possível identificar uma tendência de ampliação do aumento de peso elevado para a idade, em todas as regiões, sendo esta, menor no Norte e mais elevada até a região Sudeste, ainda de forma não significativa, até chegar na região Sul, na qual observa-se uma prevalência de casos significativamente maior (Teste G; p<0,0001) no ano de 2021. No que tange a prevalência de peso elevado por gênero, foi possível verificar, que não houve dados significativos estatisticamente, apesar do maior número de casos ser do sexo masculino. Assim, pode-se concluir que o aumento de peso infantil está intimamente relacionado a causas multifatoriais, dentre os quais podemos destacar a região socioeconômica, a cultura, o poder aquisitivo e o gênero. Desse modo, reforça-se a importância do profissional nutricionista nas unidades de saúde, como principal agente de implementações de ações de promoção, tratamento e reabilitação da saúde infantil.

Referências

Abbas, A. M., Fathy, S. K., Fawzy, A. T., Salem, A. S., & Shawky, M. S. (2020). The mutual effects of COVID-19 and obesity. Obesitymedicine, 19, 100-250.

Abreu, E. S. D., Viana, I. C., Moreno, R. B., & Torres, E. A. F. D. S. (2001). Alimentação mundial: uma reflexão sobre a história. Saúde e sociedade, 10, 3-14.

Aquino, E. M., Silveira, I. H., Pescarini, J. M., Aquino, R., Souza-Filho, J. A. D., Rocha, A. D. S., & Lima, R. T. D. R. S. (2020). Social distancing measures to control the COVID-19 pandemic: potential impacts and challenges in Brazil. Ciencia & saude coletiva, 25, 2423-2446.

Aquino, R. C. & Philippi, S. T. (2002). Consumo infantil de alimentos industrializados e renda familiar na cidade de São Paulo. Revista de Saúde Pública, 36(6), 655-60.

Balaban, G. & Silva, G. A. P. (2001). Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes de uma escola da rede privada do Recife. Jornal de Pediatria, 77(2), 96-100.

Batch, J. A. & Baur, L. A. (2005). Management and prevention of obesity and its complications in children and adolescents. Medical Journal of Austrália, 182(3), 130-35.

Batista-Filho, M. & Rissin, A. (2003). A transição nutricional no Brasil: tendências regionais e temporais. Caderno de Saúde Pública, 19(1), 181-191.

Bermudez, O. I. & Tucker, K. L. (2003). Trends in dietary patterns of Latin American populations. Caderno de Saúde Pública, 19(1), 87-99.

Black, M. M. & Hurley, K. M. (2007). Helping children develop healthy eating habits. Encyclopedia on Early Childhood Development, 1-10.

Bleich, S. N., Vercammen, K. A., Zatz, L. Y., Frelier, J. M., Ebbeling, C. B., & Peeters, A. (2018). Interventions to prevent global childhood overweight and obesity: a systematic review. The Lancet Diabetes & Endocrinology, 6(4), 332-346.

Bortolini, G. A, Gubert, M. B. & Santos, L. M. P. (2012). Consumo alimentar entre crianças brasileiras com idade de 6 a 59 meses. Caderno de Saúde Pública, 28(9), 1759-1771.

Brasil. Ministério da Saúde — Área Técnica de Alimentação e Nutrição. Brasília, 2002.

Brasil. Ministério da Saúde. Guia alimentar para crianças menores de 2 anos. 2002.

BRASIL. Ministério da Saúde. Obesidade infantil afeta 3,1 milhões de crianças menores de 10 anos no Brasil. Brasília, 2021

Brooks, S. K., Webster, R. K., Smith, L. E., Woodland, L., Wessely, S., Greenberg, N., & Rubin, G. J. (2020). The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. The lancet, 395(10227), 912-920.

ECDC, E. (2020). COVID-19 situation update worldwide.

CFN. Conselho Federal de Nutricionistas. Nota Oficial: Orientações à população e para os nutricionistas sobre o novo coronavírus. 2020.

Clemente, A. P. G., Santos, C. D. D. L., Martins, V. J., Benedito-Silva, A. A., Albuquerque, M. P., & Sawaya, A. L. (2011). Mild stunting is associated with higher body fat: study of a low-income population. Jornal de pediatria, 87, 138-144.

Cohen, E., Boetsch, G., Palstra, F. P., & Pasquet, P. (2013). Social valorisation of stoutness as a determinant of obesity in the context of nutritional transition in Cameroon: The Bamiléké case. Social Science & Medicine, 96, 24-32.

Costa, R. F. D., Cintra, I. D. P., & Fisberg, M. (2006). Prevalência de sobrepeso e obesidade em escolares da cidade de Santos, SP. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, 50, 60-67.

Croda, J. H. R. & Garcia, L. P. (2002). Immediate Health Surveillance Response to COVID-19 Epidemic. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 29.

Deighton, J. et al. (2004). Prevalence of mental health problems in schools: poverty and other risk factors among 28 000 adolescents in England. The British Journal of Psychiatry, 215, 565-567.

Del Río‐Navarro, B. E. et al (2004). The high prevalence of overweight and obesity in Mexican children. Obesity Research & Clinical Practice, 12(2), 215-223.

de Sousa, G. C., Lopes, C. S. D., Miranda, M. C., da Silva, V. A. A., & Guimarães, P. R. (2020). A Pandemia de COVID-19 e suas repercussões na epidemia da obesidade de crianças e adolescentes. Revista Eletrônica Acervo Saúde, 12(12), e4743-e4743.

Fagundes, A. L. N., Ribeiro, D. C., Naspitz, L., Garbelini, L. E. B., Vieira, J. K. P., Silva, A. P. D., & Juliano, Y. (2008). Prevalência de sobrepeso e obesidade em escolares da região de Parelheiros do município de São Paulo. Revista Paulista de Pediatria, 26, 212-217.

Ferreira, V. A. & Magalhães, R. (2006). Obesidade no Brasil: tendências atuais. Revista portuguesa de saúde pública, 24(2), 71-81.

Ferreira, V. A., Silva, A. E., Rodrigues, C. A. A., Nunes, N. L. A., Vigato, T. C., & Magalhães, R. (2010). Inequality, poverty and obesity. Ciência & Saúde Coletiva, 15, 1423-1432.

Garcia, L. P. & Duarte, E. (2020). Intervenções não farmacológicas para o enfrentamento à epidemia da COVID-19 no Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 29.

Gonçalves, J. D. A., Moreira, E. A. M., Trindade, E. B. S. D. M., & Fiates, G. M. R. (2013). Transtornos alimentares na infância e na adolescência. Revista paulista de pediatria, 31, 96-103.

Gubert, M. B., Benicio, M. H. & Santos, L. M. (2010). Estimativas de insegurança alimentar grave nos municípios brasileiros. Caderno de Saúde Pública, 26, 1595-1605.

Hales, C. M., Carroll, M. D., Fryar, C. D., & Ogden, C. L. (2017). Prevalence of obesity among adults and youth: United States, 2015–2016.

He, M. & Evans, A. (2007). Are parents aware that their children are overweight or obese? Do they care? Canadian Family Physician, 53,1493-1499.

Huang, J. S., Becerra, K., Oda, T., Walker, E., Xu, R., Donohue, M., & Breslow, A. (2007). Parental ability to discriminate the weight status of children: results of a survey. Pediatrics, 120(1), e112-e119.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Pesquisa nacional de saúde: 2019: informações sobre domicílios, acesso e utilização dos serviços de saúde: Brasil, grandes regiões e unidades da federação / IBGE, Coordenação deTrabalho e Rendimento. - Rio de Janeiro: 2020.

Kac, G. & Velásquez-Meléndez, G. (2003). A transição nutricional e a epidemiologia da obesidade na América Latina. Caderno de Saúde Pública, 19(1), S4-S5.

Killien, M. G. (2001). Women and employment: a decade review. Annual Review of Nursing Research, 19(1), 87-123.

Lima, C. K. T., Carvalho, P. M. D. M., Lima, I. D. A. A. S., Nunes, J. V. A. D. O., Saraiva, J. S., Souza, R. I. D., Silva, C. G. L. D. & Rolim-Neto, M. L. (2020). The emotional impact of Coronavirus 2019-nCoV (new Coronavirus disease). Psychiatry research, 287(112915), 1-2.

Loades, M. E., Chatburn, E., Higson-Sweeney, N., Reynolds, S., Shafran, R., Brigden, A., Linney, C., McManus, M. N., & Crawley, E. (2020). Rapid systematic review: the impact of social isolation and loneliness on the mental health of children and adolescents in the context of COVID-19. Journal of the Americam Academy Child Adolescent Psychiatry, 59, 1218–1239.

Lourenço, C. L. M., de Souza, T. F. & Mendes, E. L. (2019). Relationship between smartphone use and sedentary behavior: a school-based study with adolescents. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, 24, 1-8.

Matos, S. M. A. de. et al. (2011). Velocidade de ganho de peso nos primeiros anos de vida e excesso de peso entre 5-11 anos de idade, Salvador, Bahia, Brasil. Caderno de Saúde Pública, 27(4), 714-722.

McElroy, E., Patalay, P., Moltrecht, B., Shelvin, M., Shum., A., Creswell, C. & Waite, P. (2020). Demographic and health factors associated with pandemic anxiety in the context of COVID-19. British Journal of Health Psychology, 25, 934–944.

Mendonça, C. P. & Anjos, L. A. (2004). Aspectos das práticas alimentares e da atividade física como determinantes do crescimento do sobrepeso/obesidade no Brasil. Caderno de Saúde Pública, 20(3), 698-709.

Ministério da Saúde/Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Pesquisa nacional de demografia e saúde da criança e da mulher – PNDS 2006: dimensões do processo reprodutivo e da saúde da criança. Brasília: Ministério da Saúde; 2009. (Série G. Estatística e Informação em Saúde).

Monteiro, C. A., Moura, E. C., Conde, W. L. & Popkin, B. M. (2004). Socioeconomic status and obesity in adult populations of developing countries: a review. Bulletin of the world health organization, 82, 940-946.

Ng, M., Fleming, T., Robinson, M., Thomson, B., Graetz, N., Margono, C., Mullany, E. C., ... & Gakidou, E. (2014). Global, regional, and national prevalence of overweight and obesity in children and adults during 1980–2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013. The lancet, 384(9945), 766-781.

Nicklas, T. A., Baranowski, T. & Cullen, K. W. (2001). Berenson G. Eating patterns, dietary quality and obesity. Journal of American Nutrition Associate, 6, 599-608.

Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Folha informativa – COVID-19 [Internet]. Brasília: OPAS; 2020.

Pietrobelli, A., Pecoraro, L., Ferruzzi, A., Heo, M., Faith, M., Zoller, T., Antoniazzi, F., … & Heymsfield, S. B. (2020). Effects of COVID-19 lockdown on lifestyle behaviors in children with obesity living in Verona, Italy: a longitudinal study. Obesity, 28, 1382–1385.

Pires, R. R. C. Os efeitos sobre grupos sociais e territórios vulnerabilizados das medidas de enfrentamento à crise sanitária da covid-19: propostas para o aperfeiçoamento da ação pública: Nota Técnica. Brasília: IPEA; 2020. [acessado 2022 fev 11]. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_alphacontent&view=alphacontent&Itemid=357.

Pinheiro, K. (2001). História da Alimentação. Universitas Ciências da saúde, 3, 173-190.

Pimenta, T. A. M., Rocha, R. & Marcondes, N. A. V. (2015). Políticas públicas de intervenção na obesidade infantil no Brasil: uma breve análise da política nacional de alimentação e nutrição e política nacional de promoção da saúde. Health Sciences Journal, 17(2), 15-24.

Rech, R. R., Halpern, R., Constanzi, C. B., Bergmann, M. L. D. A., Alli, L. R., Mattos, A. P. D., Trentin, L., & Brum, L. R. (2010). Prevalência de obesidade em escolares de 7 a 12 anos de uma cidade Serrana do RS, Brasil. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, 12(2), 90-7.

Ribeiro, M. C. S. de A., Barata, R. B., Almeida, M. F. D., & Silva, Z. P. D. (2003). Perfil sociodemográfico e padrão de utilização de serviços de saúde para usuários e não-usuários do SUS – PNAD 2003. Ciência & Saúde Coletiva, 11(4), 1011-1022.

Ruíz-Roso, M. B., Padilha, P. D. C., Matilla-Escalante, D. C., Brun, P., Ulloa, N., Acevedo-Correa, D., Peres, W. A. F., ...& Dávalos, A. (2020). Changes of physical activity and ultra-processed food consumption in adolescents from different countries during Covid-19 pandemic: an observational study. Nutrients, 12(2289), 1-13

Rodriguez-Morales, A. J., Gallego, V., Escalera-Antenaza, J. P., Méndez, C. A., Zambrano, L. I., Franco-Paredes, C., Suaréz, J. A., … & Cimerman, S. (2020). COVID-19 in Latin America: The implications of the first confirmed case in Brazil

. Travel Medicine and Infectious Disease, 35, 101613

Siqueira, R. S. & Monteiro, C. A. (2007) Amamentação na infância e obesidade na idade escolar em famílias de alto nível socioeconômico. Revista de Saúde Pública, 41(1):5-12

Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional. Relatório consolidado de estado nutricional do ano de 2009.

Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional. Relatório consolidado de estado nutricional do ano de 2019.

Silva, C. B. Prevalência e Tratamento dos Fatores de Risco da Obesidade e Síndrome Metabólica. 2010. 68f. Dissertação (Mestrado) -Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2010.

Silva, C. G., Takami, E. Y. G., Takami, E. Y. G., De Oliveira, K. F., & Viana, S. D. L. (2018). Estado nutricional de crianças e adolescentes residentes em comunidade carente. RBONE-Revista Brasileira De Obesidade, Nutrição E Emagrecimento, 12(75), 927-934.

Sobal, J., Rauschenbach, B. & Frongillo, E. A. (2003). Marital status changes and body weight changes: a US longitudinal analysis. Social Science and Medicine, 56(7), 1543-55.

Souza, J. B. de & Enes, C. C. (2003). Influência do consumo alimentar sobre o estado nutricional de adolescentes de Sorocaba-SP. Journal of the Health Sciences Institute, 31(1), 65-70.

Wang, Y., Monteiro, C. & Popkin, B. M. (2002). Trends of obesity and underweight in older children and adolescents in the United States, Brazil, China, and Russia. The American Journal of Clinical Nutrition, 75, 971-977.

World Health Organization. (1995). Physical status: The use of and interpretation of anthropometry, Report of a WHO Expert Committee. World Health Organization.

Organização Internacional do Trabalho (ILO). COVID-19 and the impact on agriculture and food security [Internet]. Geneva: ILO; 2020 [acessado 2022 fev 10]. https://tinyurl.com/y56qbbd8.

Organization WH. Obesity: preventing and managing the global epidemic: World Health Organization; 2000.

WHO, World Health Organization. Taking Action on Childhood Obesity. Geneva: World Health Organization; 2018. (WHO/NMH/PND/ECHO/18.1) Licence: CC BYNCSA 3.0 IGO. https://www.who.int/end-childhoodobesity/publications/taking-action-childhood-obesity-report/en/.

Zeferino, A. M. B., Barros Filho, A. A., Bettiol, H., & Barbieri, M. A. (2003). Monitoring growth. Jornal de Pediatria,79 (1), S23-S32.

Downloads

Publicado

14/03/2022

Como Citar

RIBEIRO, L. A.; COÊLHO, M. D. G. .; ROSA, S. F. .; OLIVEIRA, M. M. L. de .; LOURENÇO, J. V. G. . Estado Nutricional infantil – os impactos da pandemia e suas perspectivas para a prevenção. Research, Society and Development, [S. l.], v. 11, n. 4, p. e15211427129, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i4.27129. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/27129. Acesso em: 6 jul. 2024.

Edição

Seção

Ciências da Saúde