A biopolítica da Covid-19 no Brasil: os dispositivos do necropoder no contexto neoliberal e as violações aos direitos humanos
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v11i6.28593Palavras-chave:
Covid-19 no Brasil; Necropolítica; Neoliberalismo; Direitos humanos.Resumo
A pandemia do novo Coronavírus estabeleceu um estado de emergência global e afetou todas as regiões do mundo. No entanto, o impacto alcançou proporções diversas em cada país e foram inúmeros os fatores que condicionaram a intensidade dos efeitos. O objetivo do estudo consistiu em discutir a Covid-19 no Brasil a fim de interpretar indicadores de impacto da pandemia a partir da análise de três perspectivas: as escolhas biopolíticas de enfrentamento, o manejo de dispositivos necropolíticos, e o cenário neoliberalista de violações a direitos humanos. O método utilizado foi o qualitativo, no qual os resultados dos indicadores foram analisados a partir das perspectivas teóricas do bio e necropoder de Mbembe, contextualizadas no modelo econômico neoliberal. Os achados mostraram que a taxa de letalidade brasileira ficou acima das médias das demais regiões do mundo em quase todo o período observado. A maior parte das hospitalizações por Covid-19 no Brasil foi de pessoas brancas, no entanto, foram as pessoas pretas ou pardas as que mais apresentaram os sintomas da doença. No primeiro trimestre de 2021, a taxa de desocupação segundo raça/cor foi maior para as pessoas pretas em comparação às pessoas brancas e, segundo o sexo, foi maior para as mulheres em comparação aos homens. A biopolítica implementada agravou as consequências da pandemia no Brasil, potencializando a segregação dos que podem morrer e dos que não podem morrer em um verdadeiro movimento necropolítico típico do sul global.
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