Automedicação e os riscos de intoxicação associados ao uso de ivermectina e hidroxicloroquina
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v11i9.31848Palavras-chave:
Ivermectina; Hidroxicloroquina; Riscos da automedicação; COVID-19.Resumo
Introdução: Próximo do término do ano de 2019, a COVID-19, uma doença emergente, afetou todos os países devido à disseminação do novo coronavírus, intitulado de SARS-CoV-2. Embora o surto tenha começado em Wuhan, uma província da China, não se restringiu à ela e rapidamente afetou diversos países, provocando uma pandemia. Em meio a esse cenário, os governos buscaram por medidas farmacológicas terapêuticas e profiláticas, como a ivermectina e a hidroxicloroquina. Objetivo: demonstrar, por meio de resultados empíricos atuais, os riscos associados à automedicação a partir do uso indiscriminado da ivermectina e da hidroxicloroquina como medidas terapêuticas contra a COVID-19. Método: revisão bibliográfica, de natureza descritiva-exploratória e de abordagem qualitativa. A pesquisa foi feita em bases de dados como Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Google Acadêmico. Resultados: não há qualquer evidência científica que comprove que a ivermectina e a hidroxicloroquina são eficazes ao tratamento do novo coronavírus. Contrariamente ao que tem sido propagado, a hidroxicloroquina, embora ela impeça a glicosilação terminal da enzima ACE2, agindo como receptora da membrana para o SARS-CoV-2, inibindo, então, a ligação do vírus, os resultados dos estudos reiteram que, contra o novo coronavírus, esta função não se concretiza. Conclusão: ambos os medicamentos possuem alto teor de toxicidade quando utilizados de maneira indiscriminada, trazendo, portanto, riscos diversos à saúde humana, não sendo uma terapia indicada.
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