O corpo e suas implicações sobre a construção da identidade de gênero

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33448/rsd-v11i12.34424

Palavras-chave:

Corpo; Identidade de gênero; Transexualidade; Corpos políticos; Discursos.

Resumo

Os corpos já nascem implicados pela cultura, já nascem determinados por tecnologias discursivas arraigadas que irão definir as formas mais adequadas de se fazer os gêneros. Em um país que apresenta de forma estrutural os mais diversos preconceitos, como o de raça, classe e gênero, a transfobia se configura de várias formas nos âmbitos sociais, seja negligenciando ou violando direitos básicos para população trans. O presente artigo é uma parte dos resultados da pesquisa realizada durante o doutorado e tem como objetivo discutir o corpo e suas implicações sobre a construção da identidade de gênero, a partir de diálogos da autora deste com pessoas transexuais e travestis em Maceió. Esses relatos aconteceram no momento de imersão no campo, quando iniciei a pesquisa em 2018. A investigação de caráter qualitativo, recorreu à pesquisa bibliográfica e empírica, por meio das técnicas da observação e entrevista aberta, e para analisar os dados foi utilizada a análise de discurso fundamentada em Pêcheux (1995) e Orlandi (2001; 2007).  Em sua primeira parte, aborda o gênero, a identidade de gênero e a orientação sexual, Em seguida, discute os corpos trans como corpos políticos. Discute identidade trans e suas idiossincrasias. Por fim, discorre sobre a luta das transexuais na construção de sua identidade. A partir das reflexões trazidas fica evidente o quão político são os corpos trans, estando estes implicados nas compreensões já concebidas de gênero, de identidade de gênero e de orientação sexual sob uma ótica tão excludente, revelando a importância dos discursos que (re)produzimos sobre essas identidades e como isso pode repercutir nessas realidades.

Biografia do Autor

Telma Low Silva Junqueira , Universidade Federal de Alagoas

Psicóloga pela Universidade Federal de Pernambuco/UFPE, especialista em Psicologia Social Comunitária, mestra em "Género y Políticas de Igualdad" e doutora em "Estudios de Género", ambos cursos vinculados ao Institut Universitari d'Estudis de la Dona / Universitat de València-España. Atualmente é professora adjunta do curso de psicologia da Universidade Federal de Alagoas/UFAL, representa a UFAL na Comissão de Integração Ensino-Serviços de Alagoas (CIES Estadual), pesquisadora vinculada ao Grupo de Psicologia Discursiva (PROSA/UFAL) e ao Grupo de Pesquisa Feminista em Gênero e Masculinidades (GEMA/UFPE). Desenvolve pesquisas com base na teoria feminista de gênero, especialmente no contexto da formação, assistência e gestão em saúde desde uma perspectiva do feminismo negro interseccional. Investigando temas como a violência contra as mulheres, o mito do amor romântico, intersecção entre LBGTIfobia, racismo, capacitismo e capitalismo e outros determinantes sociais de saúde no contexto das políticas públicas de saúde e intersetoriais. Atualmente, compõe duas equipes de pesquisa interprofissional, uma sobre saúde das pessoas que gestam e parem a partir de uma análise da Rede Cegonha em Alagoas e outra sobre a interprofissionalidade no SUS no contexto da atenção básica de Maceió/Alagoas

Pedro Simonard, Centro Universitário Tiradentes

Professor de Programa de Pós-Graduação Pleno I 3 (Professor PPG Pleno I, nível 3) no Programa de Pós-graduação em Sociedade, Tecnologias e Políticas Públicas do Centro Universitário Tiradentes - UNIT/AL. Pesquisador associado do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP). Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1987), mestre em Artes pela Universidade de São Paulo (1995) e doutor em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2005). Antropólogo e documentarista com interesse em antropologia visual e cinema documentário, atuando principalmente nos seguintes temas: cultura afro-brasileira, antropologia visual, jongo, comunidades quilombolas, tradição e diáspora negra, preservação de referências culturais materiais e imateriais.

Referências

Albuquerque, E. F.de A. R., & Oliveira, E. G. de (2021). Transfobia na educação: O olhar da estudante transgênero feminino. Research, Society and Development, 10(4), 2. https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/download/14272/12751/185170.

Bhabha, H. K. (2005). O local da cultura. Ed. UFMG: Belo Horizonte.

Bento, B. (2006). A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro: Garamond Universitária.

Beauvoir, S. (1949/1980). O Segundo Sexo (vols. 1-2). Trad. Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

Benevides, B. G., & Nogueira, S. N. B. (Orgs.). (2022). Dossiê – assassinatos e violência contra travestis e transexuais no Brasil em 2021. Brasília: ANTRA, IBTE.

Butler, J. (2010). Problemas de gênero. Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Bourdieu, P. (1989). O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

Colling, L. (2013). A igualdade não faz o meu gênero: em defesa das políticas das diferenças para o respeito à diversidade sexual e de gênero no Brasil. Revista Contemporânea, 3(2), 405-427.

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

Decreto n. 8.727, de 28 de abril de 2016. Dispõe sobre o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2016/decreto-8727-28-abril-2016-782951-publicacaooriginal-150197-pe.html

Deleuze, G. (1992). Conversações. Rio de Janeiro: Editora 34.

Fabris, A. (2009). O corpo como território político. Baleia na rede: estudos em arte e sociedade, 1(6), 416-429.

Foucault, M. (1976/1997). História da Sexualidade I: A vontade de saber (Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. Gilhon de Albuquerque, Trad.). Rio de Janeiro: Edições Graal.

Foucault, M. (1977-1978/2004). Sécurité, territoire, population. Cours au Collège de France, 1977- 1978. Paris: Seuil/Gallimard.

Foucault, M (1987/1999). Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Editora Vozes.

Fraser, N. (2002). A justiça social na globalização: Redistribuição, reconhecimento e participação. Revista Crítica de Ciências Sociais [Online], 63.

Heidegger, M. (1927/2007). Ser e Tempo. (Márcia Sá Cavalcante Schuback, Trad.). (2a ed.). Petrópolis: Vozes.

Godoy, A. S. (1995). Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. RAE - Revista de Administração de Empresas, São Paulo, 35(2), 57-63.

Heliodoro, G. (2017, Novembro 7). O que é transfobia? - Identidade de gênero, compartilhando Ideias 13 (Ep. 07). [Arquivo de vídeo]. https://www.youtube.com/watch?v=rKr2unb594A

Jesus, J. G. (2012). Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. Goiânia: Ser-Tão.

Kabengele, D.do C. (2015). O "pardo" Antonio Ferreira Cesarino (1808-1892): e o trânsito das mercês. Aracaju: EdUNIT.

Kant, I. (1986). Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70.

Lei nº 8.080 de 19 de Setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm

Ludke, M., & Andre, M. E. D. A. (2013). Pesquisas em educação: uma abordagem qualitativa. São Paulo: E.P.U. 6.5)

Moira, A. (2017) O cis pelo trans. Revista Estudos Feministas, 25(1), 365-373.

Munanga, K. (2012). Negritude: Usos e sentidos. Belo Horizonte: Autêntica.

Orlandi, E. P. (2001).Discurso e Texto: formação e circulação do sentido. Campinas, SP: Pontes.

Orlandi, E. P.(2007). Análise de discurso: princípios e procedimentos. (7ª. ed.). Pontes.

Pechêux, M. (1995). Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Tradução Eni Pulcinelli Orland et al. (2ª. ed.): Editora da UNICAMP.

Pelúcio, L. (2011). Marcadores sociais da diferença nas experiências travestis de enfrentamento à aids. Revista Saúde e Sociedade, 20(1), 76-85.

Petry, R., & Meyer, D. E. E. (2011). Transexualidade e heteronormatividade: algumas questões para a pesquisa. Textos &Contextos, 10(1).

Preciado, P. B. (2018). Testo junkie: sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica; tradução de Maria Paula Gurgel Ribeiro. São Paulo: n-1 edições.

Portaria n. 1.707, de 18 de agosto de 2008. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), o Processo Transexualizador, a ser implantado nas unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2008/prt1707_18_08_2008.html

Portaria n. 2.803, de 19 de novembro de 2013. Redefine e amplia o Processo Transexualizador no Sistema Único de Saúde (SUS). http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt2803_19_11_2013.html

Quebrada, L (2017). Bixa preta. https://www.letras.mus.br/mc-linn-da-quebrada/bixa-preta/.

Ramirez, J. A. (2003). Corpus solus: para un mapa del cuerpo en el arte contemporáneo. Madrid: Ediciones Siruela.

Salinas Ruiz, M., & Alves, F. L. (2021). The importance of the concept of border for gender studies: an approach on transvestite. Research, Society and Development, 10(3), e3021037965.

Transgender Europe. (2022). Transgender Europe: Trans Murder Monitoring 2021. https://transrespect.org/en/map/trans-murder-monitoring/?submap=tmm_2020

Yu, W. (2017). É tudo nosso: Um relato trans a partir de relatos de pessoas trans no YouTube (Monografia de Graduação). Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom-UFBA), Salvador, BA, Brasil.

Wonderfull, N. (2019, Dezembro 2). A morte e vida da Severina. TEDxPajuçara. [Arquivo de vídeo]. https://www.youtube.com/watch?v=SHGGGVum6S8

Downloads

Publicado

14/09/2022

Como Citar

BELO, V. L. M. de S. .; JUNQUEIRA , T. L. S.; SIMONARD, P. . O corpo e suas implicações sobre a construção da identidade de gênero. Research, Society and Development, [S. l.], v. 11, n. 12, p. e274111234424, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i12.34424. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/34424. Acesso em: 6 out. 2024.

Edição

Seção

Ciências Humanas e Sociais