O herbicida glifosato pode interferir nas interações sociais de abelhas Apis mellifera operárias?
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v12i6.42439Palavras-chave:
Agrotóxico; Comportamento; Apis.Resumo
O objetivo deste estudo foi observar possíveis alterações comportamentais de abelhas africanizadas (Apis mellifera Linnaeus, 1758), após exposição ao herbicida glifosato. Para isso, foram utilizados dois métodos de exposição (ingestão e pulverização) e as concentrações de 0 (Grupo Controle), 0,01 e 1 mL.L-1, durante 24 horas de exposição. No método de ingestão, as abelhas foram alimentadas com mel acrescido das soluções, enquanto no teste de contato, as abelhas foram pulverizadas com as concentrações do herbicida. Analisou-se as interações de contato (antenação e trofalaxia), mobilidade (capacidade de alçar voo) e letargia (dificuldade de alçar voo e voo deficiente), além da mortalidade dos indivíduos. De forma geral, nos dois tipos de exposição (ingestão e pulverização) com a menor concentração testada (0,01 mL.L-1) foram observadas maior frequência de contato e menor mobilidade das abelhas. Enquanto que, as abelhas expostas a 1 mL.L-1 de glifosato apresentaram menor contato e maior mobilidade e letargia, além de maior taxa de mortalidade das abelhas. Confirmou-se que maiores concentrações do herbicida podem afetar as interações sociais das abelhas; contudo, o método de pulverização foi o que acarretou maior mortalidade. Assim, concluímos que a exposição ao glifosato ocasiona efeitos nas interações sociais em indivíduos de A. mellifera.
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