Análise temporal da utilização de aves, como sentinelas ambientais no monitoramento de contaminação por agrotóxicos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33448/rsd-v9i7.4807

Palavras-chave:

Aves insetívoras; Agrotóxicos; Contaminação ambiental; Ecotoxicologia.

Resumo

Com a chegada da globalização de mercados, surgiu um novo modelo econômico denominado agronegócio, que tem como base a representação política mundial, através dos interesses de conglomerados empresariais multinacionais. Como consequência, emergiram novas metodologias de produção agrícola, no qual se torna comum a desestruturação ecológica do meio ambiente, causada pelo uso desordenado de produtos agrotóxicos. A exposição de organismos não-alvos a estes compostos químicos é bastante comum, resultando em inúmeros casos de intoxicação aguda na população silvestre,  particularmente em aves,  que possuem  baixos níveis de enzimas detoxificantes, aumentando sua sensibilidade. O objetivo do trabalho foi realizar uma pesquisa, por meio da abordagem cienciométrica, para verificar e caracterizar o desenvolvimento do conhecimento científico mundial, sobre a contaminação de aves insetívoras por agrotóxicos utilizados na agricultura ao longo de 21anos. Foram encontrados 16 trabalhos, distribuídos em nove países que estudaram 50 espécies de aves enquadradas em quatro categorias de status populacional. Os resultados demostraram que estas tiveram ao menos um órgão/tecido/estrutura (fígado, fezes, bolo estomacal, plasma sanguíneo, tecido muscular, itens alimentares, ovos) contaminado por um dos 21 tipos de compostos químicos encontrados nos artigos analisados. Embora tenha-se constatado a existência de uma lacuna teórica mundial em relação a pesquisas ecotoxicológicas, demonstrando o impacto dos agrotóxicos no meio ambiente, nos estudos analisados em aves insetívoras, demonstraram ser ótimas sentinelas de monitoramento ambiental frente às mudanças que ocorrem nos ecossistemas, decorrentes da produção agrícola, e que pode afetar diretamente as espécies da fauna e da flora.

Referências

Anvisa (2013). Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) - Relatório de Atividades de 2011 e 2012, Gerência-Geral de Toxicologia, Brasília, 1-44.

Barnard, C.; Daberkow, M.; Padgitt, M.; Smith, M. E.; Uri, N. D. (1997). Alternative measures of pesticide use. Science of the total environment, 203, 229-244.

Bartuszevigea, A. M.; Capparella, A. P.; Harperb, R. G.; Frickc, J. A.; Crileyb, B.; Dotya, K.; Erhart, E. (2002). Organochlorine pesticide contamination in grassland-nesting passerines that breed in North America. Environmental Pollution,117, 225-232.

Boatman, N. D.; Brickle, N.W.; Hart, J. D.; Milsom, T. P.; Morris, A. J.; Murray, A. W. A.; Murray, K. A.; Robertson, P. A. (2004). Evidence for the indirect effects of pesticides on farmland birds. Ibis, 146,131–143.

Bolognesi, C.; Morasso, G. (2000). Genotoxicity of pesticides: Potencial risk for consumers. Trends in Food Science and Technology, 11, 182-187.

Blus, L. J.; Wiemeyer, S. N.; Bunck, C. M. (1997). Clarification of effects of DDE on shell thickness, size, mass, and shape of avian eggs. Environmental Pollution, London, 95, 67-74.

Chaiyarata, R.; Sookjama, C.; EIam-Ampaib, K.; Damrongphol, P. (2014). Bioaccumulation of organochlorine pesticides in the liver of birds from Boraphet wetland, Thailand. Science Asia, 40, 198–203.

Chowdhury, S. R.; Smith, T. K. (2001). Effects of Dietary 1,4-diaminobutane (Putrescine) on eggshell Quality and Laying Performance of Hens Laying thin-shelled Eggs. Poultry Science, 80, 1702-1709.

Cooke, A. S. (1973). Shell thinning in avian eggs by environmental pollutants. Environmental Pollution, 4, 85-152.

Costa, C. R.; Olivi, P.; Botta, C. M. R.; Espindola, E. L. G. (2008). A Toxicidade em ambientes aquáticos: discussão e métodos de avaliação. Quim. Nova, 31, 1820-1830.

Custer, C. M.; Custer,T. W. and Dummer, P. M. D. (2010). Patterns of Organic Contaminants in Eggs of an Insectivorous, an Omnivorous, and a Piscivorous Bird Nesting on the Hudson River, New York, USA. Environmental Toxicology and Chemistry, 29, 2286–2296.

Custer, T. W.; Dummer, P. M.; Custer, C. M.; Franson, C. J.; Jones, M. (2014). Contaminant Exposure of Birds Nesting in Green Bay, Wisconsin, USA. Environmental Toxicology and Chemistry, 33, 1832–1839.

Dauwe, T.; Chu, S. G.; Covaci, A.; Schepens, P.; Eens, M. (2003). Great Tit (Parus major) Nestlings as Biomonitors of Organochlorine Pollution. Archives of Environmental Contamination and Toxicology,44,89-96.

Dauwe, T.; Jaspers, V. L. B.; Covaci, A.; Eens, M. (2006). Accumulation of Organochlorines and Brominated Flame Retardants in the Eggs and Nestlings of Great Tits, Parus major. Environmental Science & Technology,.40, 5297-5303.

Dauwe,T.; Van Den STeen, E.; Jaspers, V. L. B.; Maes, K.; Covaci, A.; Eens, M. (2009). Interspecific differences in concentrations and congener profiles of chlorinated and brominated organic pollutants in three insectivorous bird species. Environment International, 35, 369–375.

Duke, S. O.; Menn, J. J.; Plimmer, J. R. (1993). Challenges of pest control with enhanced toxicological and environmental safety: an overview. American chemical society, 1-13.

Fan - Gao, X. J.; Zhi - Feng, Y.; Xin - Ming,W.; Bi – Xi, A. (2009). Brominated Flame Retardants, Polychlorinated Biphenyls, and Organochlorine Pesticides in Bird Eggs from the Yellow River Delta, North China. Environmental Science & Technology, 43,6956–6962.

Fildes, K.; Astheimer, L. B.; Story, P.; William, A.; Buttemer,W. A.; Hooper, M. J. (2006). Cholinesterase Response in Native Birds Exposed to Fenitrothion During Locust Control Operations in Eastern Australia. Environmental Toxicology and Chemistry25, 2964–2970.

Fry, M. (1995). Reproductive effects in birds exposed to pesticides and industrial chemicals. Environmental Health Perspectives, 103, 165-171.

Galindo, J. C.; Kendall R. J.; Driver C. J.; Lacher, T. E. J. (1985). The effect of metyl parathion on susceptibility of bobwhite quail (Colinus virginianus) to domestic cat predation. Behavioral and Neural Biology, 43, 21- 36.

Gallo, M. A.; Lawryk, N. J. (1991). Organic phosphorous pesticides. In: Hayes Junior,

WJ, Laws Junior, E. R. (Ed.). Handbook of pesticide toxicology, 2, 917-1123.

Gibbons, D.; Morrissey, C.; Mineau, P. (2015). A review of the direct and indirect effects of neonicotinoids and fipronil on vertebrate wildlife. Environ Sci Pollut Res, 22,103–118.

Gobbo, S. R. (2016) Uso do DDT: um perigo eminente para a saúde humana. Projeto Qualidade da Água, 16 .

Goulson, D. (2013). An Overview of the Environmental Risks Posed by Neonicotinoid Insecticides. Journal of Applied Ecology, 50, 977–987.

Hallmann, C. A.; Foppen, R. P. B. (2014). Van Turnhout, CAM.; Kroon1, H. & Jongejans. E. Declines in insectivorous birds are associated with high neonicotinoid concentrations. Nature.

Ibama (2009). Produtos Agrotóxicos e Afins Comercializados em 2009 no Brasil. Disponívelem:<http://www.ibama.gov.br/qualidade-ambiental/wpontent/files/Produtos agrotoxicos_Comercializados_Brasil_2009.pdf>. Acesso em 17 de setembro 2017.

Levitan, L. (2000). “How to” and “why”: assessing the enviro-social impacts of pesticides. Crop protection, 19, 629-636.

Luo, X. J.; Zhang, X. L.; Liu, J.; Wu, J. P.; Luo, Y.; Chen, S. J.; Mai, B. X.; Yang, Z. Y. (2009). Persistent halogenated compounds in water birds from an e-waste recycling region in South China. Environ. Sci. Technol, 43, 306–311.

Maruya, K. A.; Smalling, K. L.; Mora, M. A. (2005). Residues of Toxaphene in Insectivorous Birds (Petrochelidon spp.) From the Rio Grande, Texas. Archves of Environmental Contamination and Toxicology,48, 567–574.

Meneely, G. A.; Wyttenbach, C. R. (1989). Effects of the organophosphate inseticides diazinon and parathion on bobwhite quail embryos: skeletal defects and acetylcholinesterase activity. Journal of Experimental Zoology, 252, 60-70.

Meyers, S. M.; Marden, B. T.; Bennett, R. S.; Bentley, R. (1992). Comparative response of nestling European starlings and red-winged blackbirds to an oral administration of either dimethoate or chlorpyrifos. Journal of Wildlife Diseases, 28, 400-406.

Mora, M. A. (2008). Organochlorine Pollutants and Stable Isotopes in Resident and Migrant Passerine Birds from Northwest Michoaca´n, Mexico. Archives of Environmental Contamination and Toxicology, 55. 488–495.

Naso, B.; Perrone, D.; Ferrante, M. C.; Zaccaroni, A.; Lucisano, A. (2003). Persistent Organochlorine Pollutants in Liver of Birds of Different Trophic Levels from Coastal Areas of Campania,Italy. Archives of Environmental Contamination and Toxicology, 45,407–414.

Nocera, J. J.; Blais, J. M.; Beresford, D. V.; Finity, L.; Grooms, C.; Kimpe, L. E.; Kyser, K.; Michelutti, N.; Reudink, M. W.; Smol, J. P. (2012). Historical pesticide applications coincided with an altered diet of aerially foraging insectivorous chimney swifts. Procedings of the Royal Society B: Biological Sciences, 279, 3114-3120.

Opas-Organização Pan-Americana de Saúde, Oms - Organização Mundial de Saúde representação do Brasil (1996). Manual de vigilância da saúde de populações expostas a agrotóxicos.

Parker, M. L.; Goldstein, M. I. (2000). Differential toxicities of organophosphate and carbamate insecticides in the nestling European starling (Sturnus vulgaris). Archives of Environmental Contamination and Toxicology, 39, 233-242.

Peres, F.; Moreira, J. C. (2003). É veneno ou é remédio? Agrotóxicos, saúde e ambiente. Editora: Fiocruz, 21, 339-341.

Oliveira, N. P.; Moi, G. P.; Atanaka-Santos, M.; Silva, A. M. C.; Pignati, W. A. (2014). Malformações congênitas em municípios de grande utilização de agrotóxicos em Mato Grosso, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 19, 4123 – 4130.

Pimentel, D. (1995). Amounts of Pesticides Reaching Target Pests: Environmental Impacts and Ethics. Journal of Agricultural and Environmental, 8, 17-29.

Rebelo, R.; Vasconcelos, R.; Buys, B.; Rezende, J.; Moraes, K.; Oliveira, R. (2010). Produtos agrotóxicos e afins comercializados em 2009 no Brasil: uma abordagem ambiental. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Brasília, Brazil.

Saba, A. e Messina, F. (2003). Atitudes towards organic foods and risk/benefit perception associated with pesticides. Food Quality and Preference, 14, 637- 645.

Sabik, H.; Jeanot, R.; Roundeau, B. (2000). Multiresidue methods using solid-phase extraction techniques for monitoring priority pesticides, including triazines and degradation products, in ground and surface waters. Journal of Chromatography, 885, 217-236.

Sánchez-Bayo, F.; Ward, R.; Beasley, H. (1999). A new technique to measure bird’s dietary exposure to pesticides. Analytica Chimica Acta, 399,173-183.

Silva, S. A. (2014). O agronegócio e as intoxicações agudas por agrotóxicos em Mato Grosso. Dissertação (Mestrado) Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva. Cuiabá, 177f.

Smits, J. E. G.; Bortolotti, G. R.; Sebastian, M.; Ciborowski, J. J. H. (2005). Spatial, Temporal, and Dietary Determinants of Organic Contaminants in Nestling Tree Swallows in Point Pelee National Park, Ontario, Canada. Environmental Toxicology and Chemistry, 24, 3159–3165.

Spadotto, C. A.; Gomes, M. A. F.; Luchini, L. C.; Andrea, M. M. (2004). Monitoramento do risco ambiental de agrotóxicos: princípios e recomendações. Embrapa meio ambiente, 1-29.

Spadotto, C. A. (2006). Influência das Condições Meteorológicas no Transporte de Agrotóxicos no Ambiente. Embrapa Meio Ambiente.

Vieira, E. D. R.; Torres, J. P. M.; Malm, O. (2001). DDT environmental persistence from its use in a vector control program: a case study. Environmental Research Section, 86, 174- 182.

Downloads

Publicado

11/06/2020

Como Citar

BRUM, B. R.; D’ ÁVILA, R. dos S.; SGUAREZI, S. B.; SANTOS FILHO, M. dos; IGNÁCIO, Áurea R. A. Análise temporal da utilização de aves, como sentinelas ambientais no monitoramento de contaminação por agrotóxicos. Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 7, p. e752974807, 2020. DOI: 10.33448/rsd-v9i7.4807. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/4807. Acesso em: 17 jul. 2024.

Edição

Seção

Artigos de Revisão