Comunidade terapêutica na política pública de saúde mental: tensões e divergências

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33448/rsd-v9i10.8345

Palavras-chave:

Comunidade terapêutica; Saúde mental; Política pública; Reforma psiquiátrica.

Resumo

Duas lógicas de organização e intervenção no campo da saúde mental para pessoas com envolvimento problemático de substâncias psicoativas compõem o cenário brasileiro. De um lado, possuímos políticas públicas articuladas em redes de apoio psicossocial e conectadas com a garantia dos direitos humanos, intervenção social e comunitária e redução de danos, por outro lado, possuímos as comunidades terapêuticas que sustentam suas práticas em um tripé disciplina, espiritualidade e trabalho, regime residencial de assistência e abstenção do uso de drogas. Dessa forma, esse estudo objetiva desenvolver reflexões sobre as tensões e batalhas entre essas duas lógicas. Para isso, utilizamos da pesquisa bibliográfica na qual realizou-se uma descrição sobre a história das comunidades terapêuticas, a sua articulação e regulamentação empregadas no Brasil, como essas se apresentam organizadas e, concomitante, ampliação da sua força política ao conseguirem adentrar no Sistema Único de Saúde (SUS) sendo reconhecidas como um serviço na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). As tensões se apresentam na divergência de direcionamentos das intervenções, nas denúncias e defesas realizadas por ambos os campos, as mudanças empregadas pelo atual governo brasileiro ao financiar e retomar práticas asilares na política de saúde mental. Esses acontecimentos nos fazem problematizar como as conquistas da Reforma Psiquiátrica Brasileira estão sendo atacadas nos exigindo a organização e defesa nesse campo de batalha visando a continuidade de uma luta antimanicomial.

Biografia do Autor

Pedro Victor Modesto Batista, Instituto de Educação Superior Raimundo Sá

Graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Piauí - UFPI (2012), Mestrado em Psicologia (2019, UFPI), com Especialização em Psicologia Educacional pela Faculdade Venda Nova do Imigrante - FAVENI (2017) e Especialização em Saúde Pública com enfase em Saúde da Família pelo Centro Universitário Internacional de Curitiba - UNINTER (2014).  É integrante do E-RESISTÊNCIA - Grupo de Estudos e Pesquisas em Política, História, Formação e Diferenças na Educação (UESPI-PI). Professor do Curso de Psicologia do Instituto de Educação Superior Raimundo Sá (IERSA, Picos-PI).

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Publicado

21/09/2020

Como Citar

BATISTA, P. V. M. Comunidade terapêutica na política pública de saúde mental: tensões e divergências. Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 10, p. e1679108345, 2020. DOI: 10.33448/rsd-v9i10.8345. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/8345. Acesso em: 5 jul. 2024.

Edição

Seção

Ciências da Saúde