Ultraprocessados na infância: um sistema de violação de direitos e insegurança alimentar e nutricional
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v10i14.21596Palavras-chave:
Alimentos industrializados; Segurança alimentar; Nutrição da criança.Resumo
Discussões sobre as consequências do consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) para a saúde são amplas, mas pouco tem se abordado sob aspectos sistêmicos, direitos humanos, soberania e segurança alimentar e nutricional e sustentabilidade socioambiental. Por este motivo, o presente artigo teve como objetivo analisar as implicações sistêmicas do acesso aos AUP pelas crianças. Foram analisados dados secundários de uma pesquisa transversal realizada com escolares da educação infantil de duas escolas particulares de uma capital do Nordeste brasileiro, levantados por meio de registro de três dias não consecutivos dos alimentos das lancheiras. Os AUP mais frequentes tiveram informações sobre local da fabricação, ingredientes e marca coletadas de seus rótulos e estudados. Pudemos observar que a maioria dos produtos foi fabricada em outros estados, percorrendo longas distâncias, apresentavam pouca diversidade nos ingredientes utilizados e pertenciam a submarcas que se conglomeram em seletos grandes nomes. Neste sentido, concluímos que as crianças estão tendo seu direito à alimentação violado e que o acesso aos AUP por este público sustenta um sistema alimentar hegemônico e insustentável do ponto de vista socioambiental que contribui para a insegurança alimentar e nutricional.
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