Atividades investigativas como promotoras da argumentação no ensino de ciências

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33448/rsd-v11i1.25138

Palavras-chave:

Argumentação; Ensino remoto; Ensino de Ciências por Investigação; Alfabetização Científica.

Resumo

As capacidades de interpretar e avaliar afirmações são fundamentais para a formação de cidadãos críticos num século marcado pela disseminação de informações tendenciosas carregadas de distorções do conhecimento científico. A alfabetização científica (AC), nesse contexto, ganha grande importância e precisa ser fomentada em sala de aula. Para isso, o conhecimento da epistemologia da ciência pode contribuir muito para o eixo estruturante da AC referente ao ‘aprender a fazer ciência’ e a argumentação está inserida nesse eixo. Assim, para promover a argumentação em sala de aula, aplicamos uma atividade investigativa em turmas do primeiro ano do ensino médio, na disciplina de Biologia, no ensino remoto emergencial. Os estudantes construíram hipóteses que explicaram o fenômeno investigado e, em seguida, foram convidados a negociar com seus colegas de grupo, a melhor explicação. Como resultado, observamos que os estudantes, em pequenos grupos de discussão, possuem pouca iniciativa para a argumentação e que, mesmo quando orientados a chegarem a um consenso, preocuparam-se mais em escolher uma explicação para dar a professora, do que discutirem a pertinência das explicações apresentadas. Os momentos em que os estudantes efetivamente estiveram engajados em discutir pontos fortes e fracos das explicações concentraram-se na discussão com toda a turma, em que a professora promoveu o debate através de perguntas que colocavam à prova ou buscavam mais esclarecimentos sobre as afirmativas dos estudantes. Esses resultados reforçam a importância do professor na estruturação e orientação de atividades investigativas e como facilitador de práticas epistêmicas das ciências em sala de aula para promoção da AC dos estudantes.

Biografia do Autor

Larissa Tebaldi-Reis, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro

Doutoranda do Programa de Ensino de Biociências e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz. Mestre em Formação Científica para Professores de Biologia pela UFRJ. Possui Licenciatura em Ciências Biológicas também pela UFRJ. Professora de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro - IFRJ, desde 2010. Atualmente atuando no campus Duque de Caxias. Orientadora no curso de Especialização do Programa de Pós-Graduação Latu Sensu em Educação e Divulgação científica, do IFRJ - campus Mesquita, na forma de Docente Colaboradora. Atualmente, pesquisa Ensino de Biologia por Investigação em cursos de ensino médio integrados ao técnico.

Gabriela Dias Bevilacqua, Colégio Pedro II; Espaço Ciência Viva

Doutora em Ensino de Ciências. Professora do Departamento de Biologia e Ciências e da Especialização em Ensino do Colégio Pedro II (CPII). Coordenadora Pedagógica do Espaço Ciência Viva.

Sylvia Coelho Alves Sineiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Mestranda no Programa de Pós-Graduação de Educação em Ciências e Saúde do Instituto NUTES - UFRJ e bolsista do Programa de Excelência da CAPES (PROEX). Licenciada em Ciências Biológicas pela UFRRJ, com mobilidade internacional/graduação sanduíche na Universidade do Porto - Portugal, pelo Programa de Licenciaturas Internacionais (PLI / CAPES).

Robson Coutinho-Silva, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutor em Ciências. Professor do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Diretor Científico do Espaço Ciência Viva. Orientador permanente do Programa em Ensino em Biociências e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz.

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Publicado

13/01/2022

Como Citar

TEBALDI-REIS, L.; BEVILACQUA, G. D. .; SINEIRO, S. C. A. .; COUTINHO-SILVA, R. Atividades investigativas como promotoras da argumentação no ensino de ciências. Research, Society and Development, [S. l.], v. 11, n. 1, p. e51011125138, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i1.25138. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/25138. Acesso em: 6 jul. 2024.

Edição

Seção

Ciências Educacionais