Influência da suplementação com as vitaminas B9 (ácido fólico) e B12 (cobalamina) no tratamento de pacientes com antidepressivos: uma revisão narrativa
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v11i7.29445Palavras-chave:
Vitaminas do complexo B; Homocisteína; Depressão; Fármacos; Ensino em saúde.Resumo
No Brasil, cerca de 5,8% da população possui o diagnóstico de depressão, e apenas 1/3 destes pacientes estão em tratamento, devido os efeitos adversos dos medicamentos antidepressivos que têm impulsionado novas estratégias terapêuticas. Em tais pacientes têm sido observadas altas concentrações de homocisteína, um aminoácido com propriedades neurodegenerativas. Desta forma opções terapêuticas que proporcionam a manutenção dos níveis séricos de homocisteína dentro dos valores de referência estão se tornando alvos para o tratamento da depressão de forma isolada ou em associação com os antidepressivos habituais. Esta revisão narrativa tem como objetivo avaliar a influência da suplementação com as vitaminas B9 (ácido fólico) e B12 (cobalamina) no tratamento de pacientes com antidepressivos. Identificou-se que estas vitaminas são nutrientes importantes para a síntese de neurotransmissores, bem como a redução dos níveis de homocisteína no cérebro. Os pacientes com depressão, e em tratamento ou não com antidepressivos, obtiveram uma melhora significativa do seu quadro clínico quando receberam o suplementado destes dois micronutrientes, pois eles potencializaram os efeitos dos antidepressivos, e diminuíram os níveis de homocisteína na circulação sanguínea e a gravidade dos sintomas depressivos, principalmente naqueles pacientes portadores de altas concentrações de homocisteína plasmática. Concluiu-se que o baixo custo para aquisição das vitaminas B9 e B12 é um fator importante, e tem despertando a possibilidade da sua inclusão nas diretrizes de tratamento para a depressão no sentido de melhorar a eficiência dos medicamentos e diminuir a gravidade dos sintomas.
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