Compensação Ambiental de Supressão de vegetação no Licenciamento de Pequenas Centrais Hidrelétricas em Minas Gerais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33448/rsd-v11i11.33642

Palavras-chave:

Impactos Ambientais; Estudos de Impactos Ambientais; Licenciamento Ambiental; Compensação.

Resumo

A exploração dos recursos ambientais por parte da humanidade sempre existiu, sendo a supressão de vegetação das mais recorrentes. A mobilização social pela questão ambiental fez com que surgisse o mecanismo de compensação ambiental, que visa balancear os impactos negativos de um projeto que não puderam ser evitados ou mitigados. A proposta de compensação ambiental deve obedecer a três princípios: proporcionalidade (relação entre dano causado e compensação), conexão espacial (deve estar próxima ou na mesma bacia hidrográfica da área impactada) e conexão funcional (deve promover a reposição/substituição das funções ecológicas perdidas). Este trabalho avalia como a compensação ambiental de supressão de vegetação é apresentada nos Estudos de Impacto Ambiental de Pequenas Centrais Hidrelétricas em Minas Gerais. Foram analisados todos os seis casos identificados no sistema de licenciamento do estado, entre 2018 e 2021. Os dados foram analisados utilizando pesquisa documental e análise de conteúdo dos estudos, sendo aplicado três critérios baseados nos princípios da compensação, avaliados como “atendido”, “parcialmente atendido” e “não atendido”. Os resultados indicam que apenas dois estudos atenderam integralmente os critérios adotados, sendo que a conexão funcional e a proporcionalidade apresentaram, respectivamente, os melhores e piores resultados. Tal panorama revela a falta de detalhamento das informações apresentadas nos estudos e a necessidade de aprimoramento. Um resultado alarmante é que em quatro dos cinco casos aplicáveis, a Lei da Mata Atlântica não foi cumprida em sua totalidade. Espera-se que este estudo possa contribuir para o aperfeiçoamento do mecanismo, bem como auxiliar na legislação ambiental brasileira.

Biografia do Autor

Maria Rita Raimundo e Almeida, Universidade Federal de Itajubá

Engenheira Ambiental, mestre em Meio Ambiente e Recursos Hídricos e doutora em Ciências da Engenharia Ambiental. Professora na Universidade Federal de Itajubá.

Matheus Lemes do Vale Ferreira, Universidade Federal de Itajubá

Engenheiro Ambiental formado pela Universidade Federal de Itajubá

Fernanda Aparecida Veronez, Instituto Federal do Espírito Santo

Professora Titular do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), atua em projetos de ensino, pesquisa e extensão relacionados a instrumentos de política ambiental, em particular a Avaliação de Impacto Ambiental e o Licenciamento Ambiental. Graduada em Engenharia Civil (1999) e Mestre em Engenharia Ambiental (2001) pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), é Doutora em Ciências da Engenharia Ambiental (2018) pela Universidade de São Paulo (USP).

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Publicado

02/09/2022

Como Citar

ALMEIDA, M. R. R. e; FERREIRA, M. L. do V.; VERONEZ, F. A. Compensação Ambiental de Supressão de vegetação no Licenciamento de Pequenas Centrais Hidrelétricas em Minas Gerais. Research, Society and Development, [S. l.], v. 11, n. 11, p. e568111133642, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i11.33642. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/33642. Acesso em: 30 jun. 2024.

Edição

Seção

Engenharias