Osteonecrose mandibular e o uso de bisfosfonato em paciente oncológico: relato de caso
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v11i13.35621Palavras-chave:
Osteonecrose; Bisfosfonatos; Odontologia; Oncologia; Bioética.Resumo
Relato de caso clínico de uma paciente que segue sob assistência médica oncológica em decorrência de neoplasia maligna bilateral da mama com metástase óssea e pulmonar bilateral, a qual desenvolveu osteonecrose mandibular de difícil manejo, relacionada a trauma oral protético e ao uso de bisfosfonato injetável. Esse estudo foi vivenciado no serviço de odontologia do Centro de Oncologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz da Universidade de Pernambuco. Foi possível cuidar, favorecer e acompanhar a auto-resolução da necrose óssea mandibular durante dois anos, propiciando o conforto oral e a ausência de infecção, sem interrupção do tratamento antineoplásico hormonal; independentemente do procedimento inicialmente proposto de osteotomia periférica a ser realizado sob anestesia geral, ter sido recusado pela paciente e familiares. Foi respeitada a autonomia da paciente, e assim, foi utilizado o Protocolo Operacional Padrão de Cuidados Orais (POP-Oral), de Vidal, 2012, associado a terapia antibiótica e analgésica, por três meses, e depois permaneceu só com o POP-Oral e aplicações quinzenais de gel de clorexidina 0,2% até que ocorreu a expulsão espontânea do osso necrótico e excelente cicatrização. Atualmente, a paciente segue sob acompanhamento, permanecendo sem sintomatologia, ou, qualquer outra alteração oral. Conclui-se que o tratamento da osteonecrose dos maxilares é de grande complexidade, e ainda não existe um tratamento específico, mas é possível conter, evitar infecções e estabilizar a evolução das lesões ósseas, com o cuidado individualizado, equipe multiprofissional e exercício da bioética, na prática médica-odontológica, como pode ser verificado neste relato.
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