Reflexões sobre o “Projeto Encontro de Saberes” enquanto experiência teórico-metodológica pós-colonial e da Ecologia de Saberes no ensino superior
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v9i7.4525Palavras-chave:
Saberes da tradição; Saberes científicos; Diálogo intercultural; Ruptura paradigmática; Universidade multiepistêmica.Resumo
O Projeto Encontro de Saberes (PES), elaborado e coordenado pelo antropólogo e professor da Universidade de Brasília (UNB) José Jorge de Carvalho, é uma ação inédita do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão do Ensino Superior e da Pesquisa (INCTI/MCT/CNPq), com sede na UNB. O objetivo do PES é descolonizar o conhecimento universitário por meio do diálogo entre as matrizes epistemológicas indígenas, afro-brasileiras e científicas no espaço acadêmico, representadas pelos (as) mestres (as) do saber da tradição e docentes doutores (as) parceiros (as) que juntos elaboram as ementas, o programa do curso e ministram aulas com base em diferentes epistemologias. Nosso objetivo neste artigo é apresentar e discutir a metodologia do PES, exemplificando-a a partir das experiências ocorridas na UECE e na UFMG em 2014, refletindo teoricamente sobre esta metodologia. Para este fim, utilizamo-nos da pesquisa bibliográfica embasada em Carvalho, Águas e Floréz e em alguns autores pós-coloniais; dentre eles, o palestino Edward Said, e na Ecologia de Saberes, do sociólogo português Boaventura de Souza Santos. Nossas reflexões indicam que o Projeto Encontro de Saberes (PES) pode ser considerado exemplo prático da teoria pós-colonial e da Ecologia de Saberes, pois, além de criticar a hegemonia do pensamento científico moderno ocidental, insere na Universidade os representantes dos saberes milenares, daqueles que foram “silenciados” ao longo dos séculos, para dialogarem igualmente com os saberes científicos, valendo-se de uma metodologia que rompe com o paradigma do ensino monoepistêmico.
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