Terapia de voz de um homem transgênero: um relato de caso
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v9i9.7367Palavras-chave:
Disforia de Gênero; Fonoaudiologia; Pessoas Transgênero; Terapia vocal e voz.Resumo
Introdução: Em homens transgênero, a terapia hormonal reduz a frequência fundamental da voz, mas as evidências sugerem que outras características femininas de comunicação não são modificadas pela terapia hormonal, podendo resultar em padrões de comunicação masculinos insuficientes para o indivíduo. Objetivo: Descrevemos a terapia vocal e seus resultados na voz de um homem transgênero com 35 anos de idade. Métodos: Suas principais queixas eram de voz incompatível com seu sexo e oscilação vocal após o tratamento hormonal, iniciado oito meses antes do estudo. Com base na avaliação da voz, foi elaborado um planejamento terapêutico com o objetivo de desenvolver: pitch descendente ao final das frases; diminuição do prolongamento das vogais; ressonância ”de peito"; diminuição da variação do pitch; respiração costodiafragmática; projeção e qualidade vocal; tempo máximo de fonação e pausas; diminuir e estabilizar a frequência fundamental; ajustar a ressonância; diminuir o pitch e aumentar a loudness; diminuir a tensão nas comissuras labiais; e desenvolver aspectos masculinos de fala e linguagem. Foram realizadas dez sessões de terapia vocal uma vez por semana, com duração de 45 minutos cada. Resultados: Após a terapia vocal, houve diminuição da variação do pitch durante a fala, aumento de pausas, foco no interlocutor, e ressonância “ de peito”; desenvolveu-se o pitch descendente no final das frases e diminuiu-se o prolongamento das vogais e a variação do pitch, como um exercício para estimular os marcadores de voz masculina e a estabilidade vocal. Mesmo após as alterações vocais induzidas por hormônios, ele ainda tinha queixas sobre sua voz, que melhoraram com o auxílio da fonoterapia. Conclusão: A terapia vocal proporcionou o desenvolvimento de marcadores vocais masculinos em sua voz. A voz tornou-se compatível com seu gênero e permitiu que ele fosse reconhecido como homem por meio da voz, e ficou satisfeito com isso.
Referências
Bergel, S., & Pinho, S. M. R. (2001). Voz do transexual masculino. In: Pinho, S. M. R. Tópicos em voz (pp. 71-79). São Paulo: Guanabara Koogan.
Bultynck, C., Pas, C., Defreyne, J., Cosyns, M., den Heijer, M., & T'Sjoen, G. (2017). Self-perception of voice in transgender persons during cross-sex hormone therapy. The Laryngoscope, 127(12), 2796-2804. doi: 10.1002/lary.26716.
Buckley, D. P., Dahl, K. L., Cler, G. J., & Stepp, C. E. (2019). Transmasculine voice modification: a case study. Journal of Voice. in press: 1-8. doi: 10.1016/j.jvoice.2019.05.003.
Chaloner, J. (2001). A voz do transexual. In: Fawcus, M. Disfonias: diagnóstico e tratamento (pp. 306-324). Rio de Janeiro: Revinter.
Dornelles, F., Serpa, L. P., Kruel, C. S., Guazina, F. M. N., & Carlesso, J. P. P. (2019). Transexuality: playing related to gender identity. Research, Society and Development, 8(5), e185833. doi: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v8i5.833
Irwig, M. S., Childs, K., & Hancock, A. B. (2016). Effects of testosterone on the transgender male voice. Andrology, 5(1), 107-112. doi: 10.1111/andr.12278
Menezes, E. M., da Luz, T. A. P., Bastilha, G. R., Christmann, M. K, & Cielo, C. A. (2020). Intensive short-term vocal therapy with Finger Kazoo in male teachers – case study. Research, Society and Development, 9(7), e177973863. doi: 10.33448/rsd-v9i7.3863
Nygren, U., Nordenskjöld., A., Arver., S., & Södersten, M. (2016). Effects on voice fundamental frequency and satisfaction with voice in transmen during testosterone treatment - a longitudinal study. Journal of Voice, 30(6), 1-12. doi: 10.1016/j.jvoice.2015.10.016.
Pontes, P., & Pinho, S (2008). Músculos intrínsecos da laringe e dinâmica vocal. Série desvendando os segredos da voz – volume I. Rio de Janeiro: Editora Revinter.
Schmidt, J. G., Goulart, B. N. G., Dorfman, M. E. K. Y, Kuhl, G., & Paniagua, L. M. (2018). Voice challenge in transgender women: trans women self-perception of voice handicap as compared to gender perception of naïve listeners. Revista CEFAC, 20(1), 79-86. doi: 10.1590/1982-021620182011217.
Schwarz, K., Fontanari, A. M. V., Costa, A. B., Soll, B. M. B., Silva, D. C., Villas-Bôas, A. P. S. ... Lobato, M. I. R. (2017). Perceptual-auditory and acoustical analysis of the voices of transgender women. Journal of Voice, 32(5), 602–608. doi: 10.1016/j.jvoice.2017.07.003
Thornton, J. (2008). Working with the transgender voice: the role of the speech and language therapist. Sexologies, 17(4), 271-276. doi: 10.1016/j.sexol.2008.08.003.
THE WORLD PROFESSIONAL ASSOCIATION FOR TRANSGENDER HEALTH – WPATH. Standards of care for the health of transsexual, transgender, and gender nonconforming people. 7th Version. 2011.
Watt, S. O., Tskhay, K. O., & Rule, N.O. (2017). Masculine voices predict well-being in female-to-male transgender individuals. Archives of Sexual Behavior, 47(4), 963-972. doi: 10.1007/s10508-017-1095-1.
Ziegler, A., Henke, T., Wiedrick, J., & Helou, L. B. (2018). Effectiveness of testosterone therapy for masculinizing voice in transgender patients: a meta-analytic review. International Journal of Transgenderism, 19(1), 25-45. doi: https://doi.org/10.1080/15532739.2017.1411857.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2020 Sabrina Silva dos Santos; Carla Aparecida Cielo
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
1) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
2) Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.