Atividade antimalárica e toxicidade de Aspidosperma nitidum Benth: uma planta usada na medicina tradicional na Amazônia brasileira

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33448/rsd-v9i10.8817

Palavras-chave:

Apocynaceae; Aspidosperma nitidum; Malaria; Toxicidade.

Resumo

O objetivo deste trabalho foi avaliar a atividade antiplasmódica e a toxicidade do extrato e frações obtidas da casca de Aspidosperma nitidum. O extrato etanólico obtido dos pós da casca da planta e foi particionado ácido-base e analisado fitoquimicamente. Foram avaliadas a atividade antiplasmódica, atividade antimalárica in vivo e citotoxicidade in vitro. O índice de seletividade (SI) foi calculado. A toxicidade oral aguda e os efeitos patológicos do extrato etanólico foram avaliados em camundongos. O principal constituinte do extrato etanólico foi sugestivo de um cromóforo β-carbolina. As frações alcalóide e neutra continham compostos com um núcleo de aspidospermina como principal constituinte. O extrato etanólico (IC50 = 3,60 µg / mL), fração neutra (IC50 = 3,34 µg / mL) e a fração alcalóide (IC50 = 2,32 µg / mL) apresentaram alta atividade contra P. falciparum (cepa W2). O extrato etanólico e a fração alcalóide reduziram em 80% a parasitemia de camundongos infectados com P. berghei (ANKA) (dose de 500 mg / kg) no 5º dia, o que não foi sustentável no 8º dia. Um resultado semelhante foi obtido para a cloroquina. O extrato de etanol (CC50 = 410,65 µg / mL; SI = 114,07), fração neutra (CC50 = 452,53 µg / mL; SI = 135,49) e fração alcalóide (CC50 = 346,73 µg / mL; SI 149,45) demonstrou baixa citotoxicidade e alta SI. O extrato etanólico (5000 mg / kg; gavagem) apresentou baixa toxicidade oral aguda, não sendo observadas modificações clínicas ou anatomopatológicas (em comparação ao grupo controle). Estudos in vitro com um clone de P. falciparum resistente à cloroquina confirmaram a atividade antiplasmódica do extrato etanólico de A. nitidum, e suas frações apresentaram baixa citotoxicidade para células HepG2. Estudos in vivo com camundongos infectados por P. berghei e estudos de toxicidade aguda corroboraram esses resultados.

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Publicado

05/10/2020

Como Citar

BRANDÃO, D. L. do N. .; MARTINS, M. T.; SILVA, A. O. .; ALMEIDA, A. D. .; PAULA, R. C. de .; OLIVEIRA, A. B. de .; COELHO-FERREIRA, M. R.; GOMES, A. T. A. .; VASCONCELOS, F. de; PEREIRA, W. L. A. .; VALE, V. V. .; PERCÁRIO, S.; DOLABELA, M. F. . Atividade antimalárica e toxicidade de Aspidosperma nitidum Benth: uma planta usada na medicina tradicional na Amazônia brasileira. Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 10, p. e5059108817, 2020. DOI: 10.33448/rsd-v9i10.8817. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/8817. Acesso em: 22 nov. 2024.

Edição

Seção

Ciências da Saúde