Sobre o papel dos álcoois superiores na caracterização da cachaça

Resumo

Existe um interesse crescente em referenciais químicos para a identificação e certificação da cachaça como aguardente de cana produzida em território brasileiro. Sabe-se que os álcoois superiores usualmente analisados (n-propanol, Isobutanol e álcool isoamílico) ocorrem em todas as bebidas alcoólicas (fermentadas e/ou destiladas), mas as proporções relativas podem variar acentuadamente conforme peculiaridades da matéria-prima e do processo produtivo. Nesse trabalho, foram comparados os teores de álcoois superiores em 300 amostras de cachaça de alambique, sendo 220 de Minas Gerais e 80 de outros estados, assim como três amostras de cachaça industrial e 14 amostras de uísques de várias marcas. Os resultados permitiram estabelecer 180-360 mg/100 mL etanol como a faixa típica de álcoois superiores totais na cachaça. Cachaças com álcoois superiores acima de 360 mg/100 mL etanol não atendem à legislação brasileira. Mas cachaças com álcoois superiores abaixo de 180 mg/100 mL etanol, conforme encontrado em uma das cachaças industriais, sinalizam  adulteração, por exemplo, por mistura com álcool combustível.  A relação C4/C5 mostrou menos variação que a relação C3/C5, situando-se consistentemente na faixa de 0,20-0,50. Nos uísques analisados, os teores de álcoois superiores  situaram-se na faixa de 160 e 270 mg/100 mL; portanto, esse parâmetro não auxiliaria na diferenciação entre cachaça e uísque.  Mas a relação C4/C5 foi consistentemente diferenciada, sempre acima de 0,50. Assim, a análise rotineira dos álcoois superiores fornece informações úteis tanto para rastreamento de possíveis fraudes como para avaliações afetas à identidade/origem da cachaça.